domingo, 19 de maio de 2013

Descobertas femininas sem palavras



Descobertas femininas sem palavras

Eis que a palavra se escondeu
e não era mais palavra.
Era silêncio.
Não um silêncio bom, calmo,
mas sim um silêncio sepulcral.
Um silêncio de morte
que fazia doer a cabeça da gente
(e como doía)

Era estertor do que já estava por acabar.
Era o silêncio do calar dos direitos.
Era o silêncio que calava o protesto digno.
Era o silêncio da minha tragédia.
Tragédia de pão e água,
de soluçar e choro convulsivo...
Não era silêncio, agora tenho para comigo.
(sabia o que era)

Uma lamentação sem ruído.
Um ódio desfigurado de dor.
Uma miserabilidade de morte.
Qualquer coisa menos silêncio.
Não maculemos essa palavra com tamanho sofrimento.
Palavra?
Não havia nenhuma...
Estava eu só, acompanhado da minha solidão.

O gigolô da minha parte mulher,
o cafetão da minha alma feminina
estava só.
E era eu mesmo
que desnudado trazia
um gosto azedo.
Trazia o nonsense de ser da palavra mesmo.
O sentido que se perdeu...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Celebro



Celebro

Celebro o poema da poetisa
Celebro a observância do sábio
Celebro o esgar da bruxa
Celebro a luta do trabalhador
Celebro a perseverança do estudante
Celebro a persistência do iniciante
Celebro a inocência do iniciado
Celebro a indolência do rebelde
Celebro a marca do justiceiro
Celebro a verve do artista
Celebro o destino da cartomante
Celebro enfim...
Que me resta?

Se fossem poucas as indulgências necessárias
Mas nem se tem conta mais dos crimes cometidos
Apesar disso, o mundo gira
O mundo sempre girará

Celebro o arfar do coveiro
Celebro a docilidade da noiva
Celebro a maternidade da mãe
Celebro a certeza do atleta
Celebro a fragilidade do confesso
Celebro a destruição do soldado
Celebro a gratidão do pedinte
Celebro a estupidez do rico
Celebro o primitivismo do índio
Celebro a precisão do ourives
Celebro a negação do acusado
Celebro enfim...
Que me resta?

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)



Como acabar com o problema grave das cutículas de unha?



Como acabar com o problema grave das cutículas de unha?

Levo dois dias para me desvencilhar da ideia de um suicídio global.  E mesmo ao fim dos dois dias ainda penso naquilo:  O que aconteceria se a maior parte da população decidisse que o suicídio seria uma opção razoável?
Afinal, um morto não come, não defeca, não tem inquietudes, não faz protestos trabalhistas, não faz greve, não tem que pagar contas, não dá trabalho, enfim.  E o que haveria de se providenciar?  Estoque de ataúdes e de jazigos nos cemitérios, flores, roupas pretas, mão de obra de coveiros.  Nada de muito dispendioso.
Pensando melhor, é uma boa ideia.  Está decidido...
A partir de amanhã, vão ser realizadas campanhas ininterruptas na TV, rádio e internet incentivando o suicídio.  É uma opção barata, prática e simples de acabar com todos os problemas pessoais.  Inclusive, as cutículas de unhas...   Não teremos mais problemas com cutículas de unhas com o suicídio global.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Diálogos (de merda) de artistas (de merda)



Diálogos (de merda) de artistas (de merda)

-- Arte é uma merda...
-- É mesmo.  E nós chafurdamos na merda como os porcos chafurdam na lama.
-- Porque você não inclui essas obras na sua exposição?
-- Não. Não vou fazer isso.
-- Por que não?
-- Perde o sentido.
-- Sentido... rá... O último fiapo de sentido que se podia extrair da arte foi arrancado pelo primeiro poeta que teve a sensibilidade de ver que isso tudo era mais bonito sem sentido.
-- É.  Poesia é uma merda.
-- Tudo é uma merda para você.  Você só tem merda na cabeça?
-- Não.  Tenho uma exposição na cabeça.  E quero que ela tenha um direcionamento.
-- Deixe isso com o curador.
-- Eu tenho que dar o tom da exposição para o curador.
-- Então decrete que a abrangência da exposição é maior do que você esperava e agora vai incluir as outras obras.
-- Não posso fazer isso.
-- Por que não?
-- Porque a exposição vai ficar uma merda.
-- Sabe de uma coisa?
-- O que?
-- A merda maior é ter que fazer exposição.   As pessoas não podiam vir aos nossos ateliês e comprar ali mesmo?
-- Seria bom.
-- Seria maravilhoso.  Eliminaria o marchand, o curador, a galeria, o centro cultural, tudo, enfim que encarece as coisas.
-- Isso.  Aproveitamos e eliminamos o artista também.  Assim não há obras e não há merda nenhuma também.
-- Não seja exagerado.
-- Arte é uma merda...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)


Borboleta vaidosa



Borboleta vaidosa

Uma borboleta não tem vaidades
e é bonita e maravilhosa ao mesmo tempo.

Se eu assim fosse uma borboleta,
estaria como que extasiada
com minha natureza de borboleta
que não teria tempo para vaidades.

A não ser que eu fosse aquela borboleta,
aquela que pousa febril no galho da planta
e vem dizer aos que passam:
Venha, venha me ver homem,
venha ver como sou perfeita.
Como bato minhas asas coloridas suavemente
e faço de vocês, homens
meros voyuers da minha beleza.

Venha ver
como posso viajar
por entre as linhas da brisa,
espalhando minha força de ser natural
no âmago da existência.
Venha ver como sou linda,
pronta para brilhar e para
me fazer presente por entre as flores.

Se eu assim fosse aquela borboleta...
Ah, teria toda vaidade do mundo.
Dentre todas, a única borboleta
a ser especial assim...

Aquela sim, aquela é.
Borboleta vaidosa...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)