terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Já não bastam



Já não bastam

Nada escrevo.
Manchas sob o papel.
São minhas marcas...
São estripulias da caneta.

Nada escrevo, só deixo figuras abstratas:
desenhos, rascunhos, roughs.
Não tenho nada a dizer.
Só as manchas dizem tudo.

Mas se eu dissesse,
diria que já não bastam
as muitas interjeições de horror,
já não bastam...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

domingo, 19 de janeiro de 2014

O incognoscível



O incognoscível

Deus é e não é, ao mesmo tempo.  Deus é Tudo e é nada ao mesmo tempo.  Deus é criador e é criatura, ao mesmo tempo.  Está em tudo e em todos e não está em nada e em ninguém.  Só os loucos é que sabem.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

O que é poesia?



O que é poesia?

A poesia é como um fardo.
Um fardo que só se revela na fartura.
Mas o que seria de mim
se eu estivesse livre dessa feiura?

Sim, porque é feia.
É exuberante, eu sei, peca pelo excesso de fratura,
mas não comunica senão suavidades.
Suavidades essas que desembocam numa fissura.

Digo que seja feia porque
estabelece pontos numa fritura.
Frita miolos com intestinos
e da cabeça com a barriga surge uma formosura.

Mas que diabos?
Quanta mesura!
Usei de tantos termos
para chegar a tal usura!

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Cultura, para que você quer cultura?



Cultura, para que você quer cultura?
                
                Uma sucessão de imagens do nosso passado recente do Brasil (a retrospectiva do ano que passou) me fez enxergar o óbvio. Crime, violência moral, física e psicológica, imoralidade, culto à baixeza cultural, tudo isso é consequência, não é causa. Não é a massa que nos faz perder nossa identidade como povo.  Não.  É o povo que, como tal, perde sua identidade e não é mais povo, transforma-se em massa e faz essa diferença para pior, sempre para pior.
                Porque as músicas de “bundinha na garrafa”, os funks de “pula pula, filha da pula”, e toda essa cultura do baixo nível sobressaí no cotidiano das pessoas?  A resposta é simples.  Desde que o mundo é mundo essa cultura esteve sempre aí, porém nunca lhe foi dada tamanho domínio de tecnologia capaz de alavancar sua difusão dessa maneira.  A culpa é da tecnologia? Não propriamente.  A culpa é da má consciência para com a tecnologia que usamos. E, é claro, quanto mais nossa consciência estiver abaixo do nível de tecnologia que usamos, mais explodirão mísseis nucleares, mais guerra, mais fome e, sem dúvida, mais cultura de baixo nível proliferar-se-á.
                E qual seria o remédio (se é que há solução) para essa situação?  No passado recente, havia subvenções gigantescas para a cultura e o engrandecimento pela arte, por exemplo, por causa da guerra fria.  As nações alinhadas com os EUA e a Europa Ocidental queriam mostrar sua superioridade moral e cultural a todo custo; não só tecnológica e científica.  O mesmo se dava do outro lado da extinta cortina de ferro.  Com o fim das ideologias, tudo se transformou numa pasmaceira geral, onde ninguém reconhece mais sua imagem em instituição nenhuma, em representante nenhum, em cultura nenhuma.  Todos querem os seus 15 minutos de fama, seja como artista, político ou criminoso, dependendo do grau de consciência de cada um; que, a bem da verdade, não diferem muito um do outro.
                Alavancar cultura, hoje em dia, significa muito mais do que estar ao lado da erudição ou da cultura que se coloca como mainstream. Sempre foi assim, aliás.  A verdadeira cultura sempre foi marginal, por excelência.  Porém na nossa atualidade, há um perigo maior nessa marginalização. Porque, atualmente, vemos uma atomização de todo e qualquer engajamento.  Atomização que se dá em grupos muito específicos e, falando de artistas, para ficar no nosso meio, que se volta para o mercado com um nariz empinado dizendo “não podem me comprar” e, no entanto, se vendem ao primeiro editor ou gravadora que passa acenando com o sucesso rápido na internet, por exemplo.   Ou, ao contrário, ligam-se a grupos de extrema despersonalização autoral que nada mais são do que aparatos dessa atomização.  O que vemos é a difusão máxima da inconsciência. 
                Essa realidade talvez seja mudada quando percebermos que o enlevo pela arte não pode se dar numa via de mão única.  Não pode ser apenas para a elite.  A arte não pode se travestir de recalques incompreensíveis para o grande público, mas não pode baixar o nível para uma massa ignorante.  O equilíbrio entre uma compreensão maior do leitor e do espectador e a independência como artista e livre pensador do escritor faz-se presente quando há incentivo nos dois lados da conjuntura estética, a apreciação e a criação.  Porque o trabalho do artista só está completo quando é visto, lido, degustado. 
                Por isso é urgente que se valorize uma cultura ampla em todos os sentidos.  Desde a apreciação até o desenvolvimento criativo.  Só assim, esse quadro de baixeza moral e cultural pode ser revertido de alguma forma que não seja para pior do que vemos no nosso passado recente.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)