segunda-feira, 28 de julho de 2014

DIABÓLICO ESSE DESTINO, NÃO?

Visitem a 9a. Antologia Fênix Logos e confiram meu poema "Diabólico, esse destino, não?" na página 42 . http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/LOGOS-9JUL-2014-42p.htm

DIABÓLICO ESSE DESTINO, NÃO?
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Entre as dúvidas e as certezas,
existem os meio-termos, as meia-verdades,
as dissimulações, os mal-entendidos,
as falsidades, os contra-sensos,
os mau-feitos, as negações,
as espertezas, os disse-me-disse,
os medos, as incertezas, as ansiedades,
as canalhices, as faltas de vergonha.

Existem enfim,
todas as peripécias que o destino arma
para nos tirar a felicidade.
Herdaremos ou não
o seu gritante e ininterrupto
clamor pela falta de amor?
Só o tempo dirá...
Só o tempo dirá...

Diabólico esse destino, não?

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Se as máquinas estão rodando

Minha participação na V Seletiva Nacional de Poesia 2014 realizada pela Editora PoeArt. Fui selecionado como poeta participante da V Coletânea Século XXI com Homenagem ao Escritor Gilberto Mendonça Teles. O poema de minha autoria que está no livro é: Se as máquinas estão rodando.

Se as máquinas estão rodando

Atitude.  Cabeça erguida.

Se as roldanas e as maquinarias estão funcionando.
Se o sistema te põe no lixo.
Tenha atitude.
Não se venda.
Eles não valem um centavo do seu dinheiro suado
de trabalhador.

Atitude. Cabeça erguida.

Se eles dizem: volte para o seu lugar.
Diga a eles
que o seu lugar
é onde se fizer a sua dignidade, a sua honra
de homem e mulher inteira,
de pessoa humana plena, realizada.

Atitude.  Cabeça erguida.

Se a porta se fechou,
Se nunca esteve aberta,
passe pela parede, arrebente a parede.
É de assalto que se toma o céu, já foi dito.
Esteja alerta.
O estofo de que eles são feitos também é pó.

Atitude. Cabeça erguida.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)



Jovens velhos

Jovens velhos

Jovens de ontem,
o ontem de velhos.
Velhos de hoje,
o hoje de jovens.
Ou vice-versa?
Quem sabe?

Jovens numa juventude,
de cadavéricos ares,
pelo todo anseiam
e singram pelos mares.

Mas não alcançam
seu objetivo, não, em tempo algum.
Porque essa é a sina
de todo vivente, triste lundum.

São tão novos
e fazem tudo parecer tão velho.
São anciões, em verdade,
mais antigos do que um escaravelho.

Jovens, jovens,
Logo mortos-vivos serão.
Na última jornada da barca de Caronte,
porque jovens velhos são.

Jovens de ontem,
o ontem de velhos.
Velhos de hoje,
o hoje de jovens.
Ou vice-versa?
Quem sabe?


Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

domingo, 20 de julho de 2014

Ponto em comum


Ponto em comum
guache s/ tela
16 x 22 cm
2014
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Poemeto do confinado

Poemeto do confinado

Estava tão escuro,
com poucas luzes, de um breu imenso.
Era uma cela
e eu estava dentro.

A prisão eram meus sentimentos,
as sombras e as pequenas luzes
eram fugazes momentos.
Quanto sofrimento...


Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Catorze linhas

Catorze linhas

Linha um:
Decepado o sonho,
o sonhador não sonha mais.
Erra por dentre caminhos,
não tem paz.

Linha dois:
Caminhante por natureza,
especial altivez.
De estirpe nobre?
Quem sabe, talvez...

Linha três:
Saiu à mãe,
o filho mais novo.
A mais velha não.
Parece do povo.

Linha quatro:
Clarividentes disseram
com risos entredentes,
que aquela seria a última,
a última geração, aparentemente, eis

Linha cinco:
Por placebo entendo tarja preta
e por tarja preta
entendo e não entendo.
É letra de médico à caneta.

Linha seis:
Trazido à tona
por vias não usuais
Foi embora à fórceps,
sem nem um aceno, sem mais.

Linha sete:
Temendo por sua sanidade
nasceu logo torto
a fim de que o esquecessem
logo de cara e o dessem por morto.

Linha oito:
De quem eu falo
afinal de contas?
Dele sabe-se pouco,
dela, menos ainda conta-se.

Linha nove:
Desabalada corrida
entre iluminados.            
Mas eles correm?
São meninos mimados.

Linha dez:
Não são nada disso.
São apenas eleitos.
Vivem e não se importam.
Pois então, com tantos defeitos.

Linha onze:
Quando desponta o sol
danam-se a acordar
que acordar é uma danação.
E quem dirá levantar?

Linha doze:
Todos rejubilam-se
a vida recomeça.
Nesse pedacinho de terra
e a felicidade atravessa...

Linha treze:
De linhas chamei
esses versos.
De linhas que se entrecruzam
são os diários terços.

Linha catorze:
Não são mais do que linhas,
talvez sejam menos.
Mas não mais.
Espero que sejam plenos...


Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Estarei aqui

Visite o site da pragmatha e faço o download do Caderno Literário 58. O poema "Estarei aqui" de minha autoria, está na página 35. http://www.pragmatha.com.br/revistas/Caderno-Literario

Estarei aqui

Se você vier,
estarei aqui em espera...

não me afastarei de você
nem para trabalhar,
nem para afazeres da casa,
nem para rezar,
nem para ir no banheiro,
nem para comer,
nem para dormir,
nem para tomar banho,
nem para fazer minha arte,
nem para ver jogos de futebol...

Não me afastarei de você
nem se o espírito dos tempos,
ele todo, estiver
contra nós, nem assim...
nem se o céu dos anjos
disser que não vale a pena,
que nós não nascemos
para ficarmos juntos,
que não somos mais
um casal em comunhão...

Estarei aqui
Não me afastarei de você
nem para assistir TV,
nem para acessar a internet,
nem para ir à praia
nem para meditar,
nem para ler,
nem para me exercitar,
nem para ver os amigos,
nem para pensar,
nem para respirar...

Não me afastarei de você
nem se a vida continuamente
revivida, me disser que você
não é mais minha...
nem se a lua, eternamente
iluminada à noite,
desistir de nos iluminar,
só a nós dois e nos deixar
na ampla escuridão 
das nossas trevas interiores...

Se você vier,
estarei aqui em espera...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Frank Miller e o pecado da cidade







Frank Miller e o pecado da cidade
                
               Um autor norte-americano revolucionário, na mais ampla acepção da palavra.  Dentre muitos sucessos de histórias-em-quadrinhos publicados, (Demolidor, Batman, o Cavaleiro das Trevas, Batman Ano Um, Ronin, Elektra Assassina, 300 de Esparta) talvez Sin City tenha sido o que mais fundo tocou e toca os corações de muitos fãs.
                No dia 25 de junho de 2014 será lançada a publicação Big Damn Sin City.  Uma edição única com mais de 1.340 páginas e capa dura pela Dark Horse Comics com as aventuras A Dama de Vermelho, A Dama Fatal, A Grande Matança, A Cidade do Pecado, o Assassino Amarelo, A noite da Vingança, Balas, Garotas e Bebidas e De Volta ao Inferno (Uma História de Amor).  Isso dois meses antes da estreia de Sin City 2 nos cinemas.
                À parte toda midiatização, estrelismo e burburinho em torno da figura de Frank Miller, ele faz por merecer a fama que tem de ser “durão com os malvados”.   Nesse sentido, Sin City é sua obra prima, em andamento, aliás, já que o autor promete continuar a criar a saga.  O primeiro título da série começou a ser publicado na revista “Dark Horse Presents” em abril de 1991 e acabou em junho de 1992, dividido em treze partes.   Todas as histórias passam-se em Basin City (cidade fictícia de apelido Sin City).
                O essencial em Sin City é que seus quadrinhos estabelecem a mais pura linguagem de história-em-quadrinhos.  Não obstante tenha estreado uma adaptação para cinema de Sin City em 1 de abril de 2005, exista a possibilidade da sua continuação em junho desse ano, como já foi dito e ainda exista outra adaptação; uma série de TV para rodar com o próprio autor e Robert Rodriguez na direção, a linguagem toda de Sin City é, essencialmente, quadrinhística.
                Em Sin City, Cidade do Pecado lançada pela editora Globo, em 1996, na página 160, vemos Marv (o arquétipo do anti-herói) de costas no banheiro, vomitando “um par de vezes” e nos próximos 3 quadrinhos sua mão pegando o sobretudo, a arma de fogo (sua Gladys, em homenagem à uma das freiras da escola em que ele estudou) e o machado.   Nessa página (que poderia ser um roteiro para uma sequência de cinema também, admito) podemos perceber claramente a sucessão de espaço-tempo típico dos quadrinhos, com o espaço-tempo entre os requadros sendo preenchido pela imaginação do leitor. A preparação de Marv, em silêncio, serve de antecâmera para a página gigante de um requadro só, a 161, na qual Marv está de saída e pede um par de algemas para Gail, que diz, “eu tenho uma coleção delas”.  Ao que responde a outra amiga, “dê as que estão com você, Gail.” O diálogo é a moldura-chave para o clímax da ação que virá a seguir.
                Enfim, esse quadro soturno, noir, de uma história policial violenta, onde o anti-herói é o sujeito mais digno de nota numa cidade corrupta e atravessada por maus elementos, permanece em toda a série.  E Miller consegue estabelecer esse clima com uma narrativa própria onde os personagens não são, nem de longe, modelos de verossimilhança com o real.  O homem que faz a hora, não importa como, nem quando e nem onde, tem o seu lugar garantido na saga de Sin City. 
                Esperemos que os próximos números venham com a mesma carga dramática e o mesmo viés noir e policial que tão bem caracterizaram a criação do autor até agora.  A julgar pelo que vimos, os fãs não terão do que reclamar. 

Mauricio Duarte 

Esse artigo foi publicado na minha coluna do site Divulga Escritor: http://www.divulgaescritor.com/products/frank-miller-e-o-pecado-da-cidade-por-mauricio-duarte/

Rico Lins e o design de fronteira






Rico Lins e o design de fronteira

Todas as tendências visuais multiculturais do nosso tempo, todas as questões estéticas da pop arte e todo o rescaldo pós-moderno vindo do surrealismo e do dada mesclam-se e amalgamam-se no design de Rico Lins.  Seria melhor dizer nas imagens desse artista gráfico, já que Rico é muito mais um homem de imagens do que de design, como revela em entrevistas:
“Na Bauhaus, o design dialogava com a arte, moda, dança, fotografia, arquitetura, poesia – dialogava com a sociedade.” Esse diálogo é constante na obra do designer que cruza idéias, num processo criativo que gira em torno no binômio da liberdade e do limite.
No mundo contemporâneo, o design se articula entre tecnologia, mercado e cultura e, é assim, que Rico empreende seus projetos gráficos.  Como quando foi contratado para realizar o cartaz do filme Bananas is my bussiness, um documentário ficcional sobre Carmem Miranda, o grande mito pop brasileiro. O designer utilizou a imagem da boca de uma foto de Carmem Miranda e a imagem de bananas de uma capa de disco feita por Andy Warhol, para a banda Velvet Underground, no lugar dos olhos. Com o todo o resto da foto rebaixado em 5%, visível, mas quase ausente, o conceito do cartaz estava perfeito, a saber, um foco, uma visão da vida de Carmem Miranda.
Ou quando foi procurado pela revista Kultur Revolution para projetar suas capas.  Rico trabalha com a revista há 27 anos.  No início eram apenas capas diferentes para uma revista de esquerda.  Mas tornar-se-iam cult com o passar do tempo.  O artista gráfico experimenta bastante nessas capas e o público da revista está preparado para essas viagens; logo, a parceria foi um sucesso. Numa capa enfocando artigo sobre inteligência artificial, onde a inteligência parece ir da cabeça para os dedos da mão, vemos uma mão estilizada em cinza com vários vetores geométricos em torno dela e com o destaque para a ponta dos dedos, num fundo rosa.  Numa outra capa vemos abordagem de um artigo contra o Fast Knowledge, a cultura rápida e descartável.  Nelas vemos a imagem de um cérebro marrom com vários talheres brancos (garfos, facas e colheres) enfiados no cérebro sobre um fundo negro.  E na pega dos talheres em branco, as informações sobre a revista, como título, reportagem, número e data.  Rico tem uma relação muito boa com os produtores da revista, assinando capas como ilustrador, como designer ou como diretor de arte nas diversas versões da revista para os mercados asiático, europeu e latino-americano, por exemplo.
O designer não é carreirista e não gosta de galgar postos cada vez maiores como prova de sua excelência, por que, embora seu trabalho seja realmente excelente, para o pensador visual, a perfeição é péssima e o design inclusivo e a liberdade criativa fazem parte do seu cardápio profissional.  Criação e especialização nem sempre se sentam à mesma mesa e é por isso que Rico Lins estabeleceu-se no mercado com uma gama hiper-variada de criatividade em projetos de design os mais diversos. 
Segundo suas palavras, a cerca de uma lei da física, “o atrito gera energia”.  E é por essa máxima que o artista permeia toda a sua produção, dialogando com arte, teatro, música, televisão, cinema, todo o arsenal cultural, enfim, mergulhando e nadando com muito sucesso, nas imagens como um verdadeiro designer de fronteira.

Mauricio Duarte

Esse artigo foi publicado na minha coluna do site Divulga Escritor: http://www.divulgaescritor.com/products/rico-lins-e-o-design-de-fronteira-por-mauricio-duarte/

Hércules Barsotti e o neoconcretismo









Hércules Barsotti e o neoconcretismo

O neoconcretismo critica o pensamento mecanicista em arte e preocupa-se com os procedimentos abertos da ciência contemporânea, como as especulações em torno das geometrias não-euclidianas - como a cinta de Moebius – conhecimento que atraía Lygia Clark e Lygia Pape. 
Hércules Barsotti, por sua vez, fez parte da ala neoconcreta que aspirava representar o vértice da tradição construtivista no Brasil, ao lado de Willys de Castro, Franz Weissmann, Aluísio Carvão e, até certo ponto, Amilcar de Castro.  Sua arte insere-se também na vigência do conceito de expressão e, foi a partir desse conceito que o neoconcretismo pôde se estabelecer nos limites das tendências construtivistas, na medida em que obteve uma distância crítica em face do programa dessas tendências que chegaram ao Brasil via escola de Ulm.  Esse conceito permitiu ainda, aos neoconcretos deslocarem-se do eixo funcionalista ao redor do qual girava o concretismo.  No caso de Hércules Barsotti isso fica claro nas pesquisas de cor, ao lado de Aluíso Carvão e Hélio Oiticica.
Porém, o artista começou suas pesquisas estéticas evitando a cor e trabalhando apenas com nanquim em superfícies brancas e negras.  Sua fé ortodoxa no preto e branco tornava seu trabalho austero, qualidade que se acentua quando da sua primeira exposição, quando volta ao Brasil em 1959 depois de uma viagem à Espanha, Suíça, Itália e Portugal, onde havia se encontrado com Max Bill.  Em 1960 começa a trabalhar o quadro como um objeto dúbio, um plano que sugere um volume.  Sua pintura é desenvolvida assim nas telas Branco/Preto e Preto/Branco/Preto.  Esta abordagem o aproxima do Grupo Neoconcreto e, com esses artistas, expõe em 1960 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna em São Paulo (MAM/SP) em 1961.
A partir de 1963 abandona o preto e branco e passa a trabalhar a cor.  O formato das suas telas determinava a estrutura interna do trabalho.  Produz quadros em formatos hexagonais, redondos e pentagonais.  Projeta também em 1963, a identidade visual da Galeria Novas Tendências, fundada e gerida pelo grupo concreto de São Paulo.
Em sua obra, o artista explora a disposição dos campos de cor, criando a ilusão de tridimensionalidade.   Segundo o próprio Hércules: “Quando encosto uma cor na outra é que percebo a relação entre elas; nesse momento, é meu olho e não minha cabeça que decide.”
Também encontramos em sua obra uma incessante pesquisa óptica influenciada pela Op Art. No entanto, ficou conhecido mesmo por seu trabalho com a cor, pois suas composições primeiro seduzem pela experiência da cor, para depois, incentivar à reflexão.
O artista neoconcreto faleceu em 2010, e em 2012, a Caixa Cultural abrigou a exposição Além do Olhar, com obras de Barsotti com uma mostra que fazia uso de práticas inclusivas, com a utilização do braile e com texturas em suas peças, através de leitura visual pelo tato dando acesso aos cegos à arte desse grande pensador visual brasileiro.

Esse artigo encontra-se publicado na minha coluna do site Divulga Escritor: http://www.divulgaescritor.com/products/hercules-barsotti-e-o-neoconcretismo-por-mauricio-duarte/