Entrevista minha à Ceiça Carvalho do Arca Literária (27/07/2016).
http://www.arcaliteraria.com.br/30746/
1. Fale-nos um pouco de você.
Eu sou um meditador. Tanto no sentido que nós, no ocidente temos; meditar sobre um determinado assunto ou sobre um tema, quanto no sentido oriental: esvaziar a mente de pensamentos e conectar-se com o amor divino. O enlevo é que traz as coisas celestes e esse enlevo pode vir pela arte, pela literatura, tanto quanto pela oração e pela meditação. Só no enlevo podemos fazer a escolha certa, a escolha pela evolução espiritual. Escolha que é livre, tem que ser livre, nunca por coação. Como neossanyasin e católico eu me utilizo da arte e da poesia para atingir o enlevo, dentre outros objetivos, como a reflexão, o pensamento crítico ou apenas a fruição estética. Acesse meu blog: Arte para enlevo .
http://www.arteparaenlevo.blogspot.com.br . Leio muito e gosto de futebol e vôlei. Adoro traduzir textos antigos sobre espiritualidade do inglês para o português. A sensualidade feminina me fascina muito. Gosto de ouvir música clássica, rock e new age.
2. O que vc fazia/faz além de escrever? De onde veio a inspiração para a escrita?
Sou artista visual e ilustrador, além de designer gráfico e web designer por formação. Trabalho com poesia, contos e romance como escritor e também estou cursando a pós-graduação em Docência do Ensino Superior para me dedicar ao ensino. A inspiração para a escrita veio pela coleção de história-em-quadrinhos de super-heróis na minha infância e juventude, primeiramente. E também por algumas experiências em romance na minha adolescência no colégio em concurso e depois por conta própria. Os jogos de RPG (Role Playing Game) e a atividade como anarquista – um período mais ou menos recente da minha vida que já passou – também me levaram a escrever.
3. Qual a melhor coisa em escrever?
Trazer à realidade os mundos e universos interiores, colocando para fora sentimentos, pensamentos, reflexões e meditações a respeito da vida e do cotidiano. Escrever é manter viva a conexão com todo o arcabouço histórico e literário do imaginário da nossa identidade como povo brasileiro e como cidadão cosmopolita que a globalização, embora tão nociva e destruidora em inúmeros aspectos, também permite, sob outros pontos de vista.
4. Você tem um cantinho especial para escrever?
Escrevo normalmente na mesa da sala de estar, da minha casa, embora eu tenha um espaço reservado e separado na área de entrada junto com o computador com mesa de desenho e pintura, junto com livros e materiais diversos. A foto que eu envio é da mesa da sala de estar.
5. Qual seu gênero literário? Já tentou passear em outros gêneros?
Como poeta me situo num eu lírico em versos livres, geralmente. Gosto do romantismo e do expressionismo, trafegando por essas vertentes, bem como pela poesia social e espiritualista. Gosto de Carlos Drummond de Andrade, nosso mestre maior. Em contos e romances passo pelo inusitado e pelo insólito, bem como pelo texto simples e direto, espiritualizado e envolvente. Gosto de Paulo Coelho, por exemplo. Já escrevi ficção científica em contos e em prosa poética, que não é meu gênero literário favorito.
6. Fale-nos um pouco sobre seu(s) livro(s). Onde encontra inspiração para título e nomes dos personagens?
VOZES QUE CALAM é o resultado da minha seleção no Concurso da Editora Literacidade com a Coleção Sementes Líricas. Esse livro é composto por poemas de pequeno número de versos e bastante concisos com temas muito variados, mas com uma linha condutora nas vozes que muitas vezes se calam ou que calam outrem; vozes enfáticas e contundentes ou abafadas e sufocadas. São as vozes mais necessárias.
OS ARCANOS é proveniente do Desafios dos Escritores, programa do Núcleo de Literatura de Brasília que eu participei pela internet. O livro narra a aventura de um dia de vida do devoto caminhante Nonato Cardoso dos Santos que larga a esposa e o filho para ir até Juazeiro do Norte. Nessa cidade comemorava-se a procissão de Nossa Senhora das Candeias e a saga de Nonato por meio de visões e acontecimentos sobrenaturais o leva à santidade nesse dia.
A inspiração para títulos e nomes dos personagens vem de dois aspectos que levo em consideração: pesquisa; em relação ao tema proposto e à sonoridade do título ou do nome e evocação pessoal; ao que me remete aquela frase, palavra ou nome.
7. Qual tipo de pesquisa você faz para criar o “universo” do livro?
Pesquiso ambientes, lugares e estilos de época relativas à história do romance que estou fazendo ou contos. Pesquiso uma linha norteadora de visão do mundo para poesia. Muitas vezes, começo um texto “pela metade”; quero dizer que começo num diálogo ou no meio do poema ou num acontecimento no meio da história e daí, racionalizo e componho o final e depois o início, ou ao contrário, primeiro o início e depois o final. Portanto, a minha pesquisa vai sendo direcionada, de acordo também, com esse recorte da criação.
8. Você se inspira em algum autor ou livros para escrever?
Inspiro-me muito em Paulo Coelho que é inclusive meu patrono na Academia Virtual de Letras, que eu participo na internet. Alexei Bueno e Cecilia Meireles na poesia. Também gosto muito da linguagem seca de Graciliano Ramos. Com relação aos livros que me marcaram: Frankenstein de Mary Shelley , Macunaíma de Mário de Andrade, o Pequeno Príncipe e Meu Pé de Laranja Lima; esses dois últimos que sempre esqueço de citar.
9. Você já teve dificuldade em publicar algum livro? Teve algum livro que não conseguiu ser publicado?
Minhas publicações são todas sob demanda no Clube de Autores. Somente esse ano, finalmente, consegui publicar de forma convencional pela Editora Literacidade, meu primeiro livro de poemas com ISBN, ficha catalográfica, tudo pronto, a partir do Concurso dessa Editora do Pará, capitaneada pelo grande Abílio Pacheco. Antes disso, procurei e recebi várias propostas para publicação de editoras pequenas e médias, mas não pude acertar com nenhuma delas por impedimento financeiro, já que essas editoras precisavam que eu bancasse totalmente ou parcialmente a publicação.
10. O que você acha do novo cenário da literatura nacional?
A geração que estreou em livro nas primeiras décadas do nosso século XXI é muito diversificada. Gosto do Lourenço Mutarelli e do Michel Melamed. Mas tem muitos outros. E são todos muito bons. 2/3 da população brasileira é analfabeto funcional, só 15% da população entre 20 e 60 anos de idade tem curso superior. Vivemos um abismo social. Nesse contexto vejo com bons olhos o nosso literário atual. Poderia ser melhor, mas não é ruim. Já tive uma opinião muito diversa dessa. Acho que o tempo vai passando e a gente vai percebendo que nada é tão ruim que não possa piorar e nada é tão bom que não possa melhorar (risos). Enfim, é a realidade, temos que aceitar.
11. Recentemente surgiram vários pessoas lançando livros nacionais, uns são muito bons, outros nem tanto, outros são até desesperadores, o que você acha sobre este boom?
A facilidade e a difusão da internet permitem uma ampliação do conhecimento nunca antes vista. Tanto no sentido do conteúdo do que se escreve e do como se escreve quanto na editoração e na publicação desses escritos. Todos tem voz e vez. Isso é positivo, no meu entender. Tem mercado suficiente, ao menos potencialmente, para o kitsch, para o misticismo barato e para obras de grande valor literário. Tem literatura para todos os gostos, tanto para o leitor médio quanto para o leitor sofisticado. Já fui muito mais crítico do que hoje sobre esse assunto. Dizem que é a idade, a gente vai amadurecendo (risos) e aceitando certas realidades.
12. Qual sua opinião sobre os preços elevados dos livros nacionais?
Se você pensar que a educação, um bem universal, é tratado como mercadoria ou semi-mercadoria na nossa atualidade, podemos perceber que não há preocupação com a cultura, de maneira nenhuma. Na verdade, os preços dos livros nacionais refletem essa opção pela elite que o Brasil está fazendo. Hoje, não sou de direita nem de esquerda, sou de centro, sou centrista, mas é inegável que a política neoliberal tem aumentado a exclusão social grandemente.
13. Qual livro você falaria: “queria ter tido esta ideia”?
O Vencedor está só de Paulo Coelho. É um livro que foge um pouco do padrão do autor. Ele narra o mundo do show bussiness, das celebridades e dos grandes negócios de forma espetacular.
14. Se tivesse que escolher uma trilha sonora para seus livros qual seria?
Fire de Kitaro, Esse tal de Roque Enrow de Rita Lee e Persuassion de Santana
15. Já leu algum livro que tenha considerado “o livro de sua vida”?
Frankenstein de Mary Shelley. É um livro aterrador e impressionante como está tão atual e novo, a cada dia que passa. O cientificismo e a tecnociência ameaçam nos levar a um mundo sem ética nem valores e a criar monstros se não estivermos atentos.
16. Você tem novos projetos em mente? Se sim, pode falar sobre eles?
Gostaria de manter segredo sobre o que estou planejando, mas posso adiantar que estou trabalhando em contos e num romance, mas sem nenhuma perspectiva de término ainda. Fora isso, participarei de muitas coletâneas de poesia brevemente.
17. Você acompanha as críticas feitas por blogueiros nas redes sociais? O que você acha sobre isso?
Os blogueiros tem muito a contribuir para o nosso cenário literário e efetivamente o fazem. Gosto de alguns blogs, mas raramente acompanho.
18. Se pudesse escolher um leitor para seu livro (escritor, alguém que admire) quem seria?
Gostaria que o Lourenço Mutarelli lesse um livro de minha autoria. Gosto muito dos quadrinhos dele.
19. Qual a maior alegria para um escritor?
A maior alegria, sem dúvida, é ser lido. Cada vez que um leitor(a) se emociona com o que o escritor(a) colocou no papel, ou na tela, é um novo alento para que continue seu trabalho. Para mim, em particular, é uma vitória dupla porque minha formação é muito mais visual do que literária, mas talvez por causa disso mesmo, eu tenha enveredado pela literatura. Se eu tivesse feito uma formação em Letras, teria ficado nas artes visuais, somente, contrariamente, não sei. A imagem hoje domina e não tem como escapar.
20. Deixe uma mensagem a nossos leitores e para aqueles que estejam iniciando no mundo da escrita literária.
Agradeço a oportunidade à Ceiça e à Arca Literária de falar sobre meu trabalho. A mensagem que eu deixo é: Leia sempre e aprenda sempre. Não tenha medo de errar quando estiver escrevendo. Só no erro se acerta. E não tenha pressa de publicar. Tudo tem seu tempo. Publicar só para dizer que publicou não quer dizer nada. Tenha em mente que o bom texto aparece ao deixarmos fluir nosso imaginário mais íntimo, mais visceral e isso leva tempo. Acredite que o trabalho do escritor é 99% de transpiração e 1% de inspiração. Trabalhe sempre.