sábado, 30 de junho de 2018

A poética de Waly Salomão




A poética de Waly Salomão

Crítica feroz e ácida que, no entanto, guarda o lugar cativo da imaginação, da fantasia e do lúdico, a poética de Waly Salomão transpassa eras, é atemporal.  O que, a princípio, poderia parecer datado ou de citação do século passado  – e do milênio passado  – não é desse modo porque aquilo de construtivista, marginal, alegoria modernista ou qualquer outra vertente literária existe em seus versos, é, ao mesmo tempo, uma ressignificação, uma reconfiguração, uma reconexão de uma mixórdia do caldeirão melting pot carioca baiano e, de fato, e de direito, brasileiro, embora sem perder o aspecto universal.
O erudito, o popular, o rigor científico e o populacho escrachado se encontram numa verve fora do comum em Waly Salomão.  Filho de pai sírio e mãe baiana sertaneja, o poeta soube como ninguém herdar o arcabouço da poesia marginal, sem contudo, ater-se a esse movimento como única inspiração.  Na verdade, estar à margem – mote da marginália tropicalista – nunca foi para o autor nenhum quebra-cabeças.  Para Waly, nada mais natural do que considerarem duvidar de que seu trabalho fosse poesia ou não. Haja vista que sempre trilhou o caminho da intersecção entre as diversas mídias rompendo suas fronteiras e além. Nunca pediu passagem, foi passando e quem quisesse que saísse do seu caminho...
Num de seus poemas – ou prosa poética –  “vaziez e inaudito” destrincha a vaziez, qualidade do artista que torna seu trabalho ao mesmo tempo sucedâneo de outros anteriores e rigorosamente novo, colocando “em suspensão a linha de montagem industrial fordiana” e varando “o inesperado, o imprevisível”.  E isto porque o novo só pode vir do velho, filosofia das antigas, mas que as novas gerações esquecem vez por outra; talvez dissesse o poeta se fosse vivo ainda.
O experimentalismo das vanguardas sempre acompanhou o trabalho poético do autor, mas não o reduziu a isto.  Pelo contrário, como já disse, Salomão pôde construir uma obra multifacetada e polimorfa ao longo dos anos de sua trajetória nas letras.  Sempre em consonância com um toque enviesado, um quê de “ladrão de Bagdá e cozinheiro baiano, piadista de Jequié e ‘leitor luterano’ de Drummond, profeta de desastres telúricos e cidadão solidário”, conforme coloca Leyla Perrone-Moisés.  Que possamos sempre revisitar a obra de Waly Salomão em tempos tão carentes de lucidez é condição sine qua non para o entendimento e compreensão da geléia geral que é o nosso Brasil.  Viva a poesia! Viva Waly Salomão!

Referências bibliográficas:

Pescados vivos . Waly Salomão  . Editora Rocco . Rio de Janeiro . 2004

O ano literário - 2002-2003 . Wilson Martins .  Editora Topbooks . Rio de Janeiro . 2007


terça-feira, 26 de junho de 2018

Há uma luz



Há uma luz
Há um momento, uma fagulha,
uma luz.. se precipita
de modo voraz... com força,
cuja potência está em todos,
desde os maiores canalhas
até o mais santo dos santos...
Esta luz é Deus, é Jesus
e não faz acepção... pessoa,
gênero, etnia, classe social,
religião, filosofia ou
qualquer outra divisão.
É simplesmente unidade...
Não se pode rejeitá-la
a não ser rejeitando-a
o tempo inteiro... e por
sofisma ou perturbação
porque o Senhor nunca cessa
de nos chamar para si...
Esta luz, nossa guardiã,
Divino Espírito Santo,
está sempre conosco, é,
a lembrar-nos que existe uma
realidade subjacente,
tudo permeia: O Pai Eterno...
E ainda que se negasse, oh,
Divindade, sempre, a ti,
em todos os instantes, as próprias
pedras levantariam para
falar esta real verdade:
a luz de Deus está em tudo...
Mauricio Antonio Veloso Duarte (Swami Divyam Anuragi)

sábado, 23 de junho de 2018

A página da nossa Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo, a SAL



Obrigado a todo(a)s amigo(a)s que curtiram a página da nossa Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo, a SAL. Chegamos as 700 curtidas. Uma honra e um prazer contar com a apreciação e o apoio de todos vocês. Um grande abraço.

https://www.facebook.com/SociedadeSAL/

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Anseio e amor na América


Academia Virtual de Letras
Patrono: Paulo Coelho
Acadêmico: Mauricio Duarte
Cadeira: 18



Anseio e amor na América

Devagar a alma alça voo,
sim, morte e luz, vida e trevas.
Lamentos de um tal destino,
nunca se completou não,
só passou, mero átimo
do átomo nuclear, oh vil,
esplendor de destruição...

Os estranhos que se encontram
numa praça morta não
são espectadores, são tão
protagonistas do mesmo
enredo que, ladina, é,
latrina duma América
Latina, ruidosa e triste...

Por uma riqueza meio
anacrônica, pôde ir
para fora do espírito
e margear o continente;
saudosismo de dupla face,
de um lado, anseio, moribundo,
do outro, amor, fora da caixa...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A máscara do diabo



A máscara do diabo

Com que máscara o mentiroso
irá se mostrar, ah, agora?
Saudades do paraíso não
tem, nunca teve porque, sim,
era o anjo mais belo da então
milícia celeste e rejeitou
obedecer ao Senhor por
vaidade, por orgulho, enfim.
Um maldito, está se escondendo!
Vá embora Satanás, já foi
tarde, você e todos demônios.

Com que máscara o mentiroso
irá se mostrar, ah, agora?
Não satisfeito em ser líder
das hordas infernais, quer ser
príncipe deste mundo, como
se não soubesse quem é o Criador,
quem é que sacrificou a vida
para salvar o mundo: Jesus.
Não conseguirá esse seu intento!
Vá embora Satanás, já foi
tarde, você e todos demônios.

Com que máscara o mentiroso
irá se mostrar, ah, agora?
Tentou a humanidade desde
sempre e nunca demonstrou
arrependimento por suas
faltas, ludibriando o quanto, oh,
pôde e pôde muito, ao longo
da história os homens não tiveram
precaução de o levar a sério!
Vá embora Satanás, já foi
tarde, você e todos demônios.

Mauricio Antonio Veloso Duarte (Swami Divyam Anuragi)


terça-feira, 19 de junho de 2018

Minha participação na VIII Seletiva Nacional de Poesia – 2018 para a edição do livro VIII COLETÂNEA SÉCULO XXI em Homenagem aos poetas Anderson Braga Horta e Antonio Miranda

Os poemas "Resta" e "Inundação", de minha autoria, Mauricio Antonio Veloso Duarte, foram selecionados na VIII Seletiva Nacional de Poesia – 2018 para a edição do livro VIII COLETÂNEA SÉCULO XXI em Homenagem aos poetas Anderson Braga Horta e Antonio Miranda da Editora Poeart com organização de Jean Carlos Gomes Gomes.


Inundação
Os pingos caem, molhando
o chão do meu universo.

Chuva inclemente, sim,
lava essas almas todas.

Mas a inundação maior
é no meu coração...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)




Resta
Resta o Um...
Resta o selo de Salomão...
Resta o Lótus na lama...
Resta o Peixe...
Resta a Lua crescente e a estrela...
Resta a Estrela de nove pontas...
Resta o Yin-Yang...

Resta o Um...
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

quinta-feira, 7 de junho de 2018

São Bernardo e sua especificidade literária




São Bernardo e sua especificidade literária

A boa prosa não pode ser convertida em poesia.  Ela é romance, conto, crônica ou artigo e conta uma história, longa ou curta, explana uma ideia ou emite uma opinião.  Assim é com toda prosa de qualidade superior e assim é com São Bernardo por Graciliano Ramos.  O romance, um clássico do renomado autor, é uma crítica à situação sócio-política da época.  E por causa de sua linguagem – fora da linguagem poética – é excelente como história porque carrega opostos num mesmo contexto do enredo; ainda que, no entanto, não faça desses contrastes um cristal, um poliedro, conforme diz Domingos Carvalho da Silva em “Uma Teoria do Poema”, mas é “radial e aprofunda os seus pormenores em todas as direções”.
Ora Paulo Honório, fazendeiro personagem protagonista do romance, tenta convencer Madalena a casar-se com ele, elogiando seus conhecimentos acadêmicos e sua posição como professora, ora, anteriormente, tenta convencer Dona Glória a fazer com que a sobrinha dela, Madalena, abandonasse a carreira de professora por ser mal remunerada.  Esta multitudinária cosmogonia dos mundos interiores e exteriores, que se entrelaçam entre si, são todas partes da obra e demonstram a sua grande relevância.  A rudeza, a violência e a truculência de Paulo Honório também contrastam com a sensibilidade de Madalena, que depois, já casada com o proprietário de fazenda, acaba por suicidar-se, sufocada que estava com o relacionamento frustrante e aterrador, em muitos aspectos, com Paulo Honório.
O narrador-personagem, aliás, já no capítulo 1, se torna como que um símbolo da questão arte/linguagem, ao “esconder” o Graciliano Ramos-escritor e metamorfoseá-lo em narrador-personagem fazendeiro, que decide escrever um relato.  Tal forma de narrar vai se mantendo ao longo do romance, no qual diversas vezes, o personagem acusa Gondim – e outros colaboradores-personagens da escrita de Paulo Honório – de pernosticismo, de idiotia e de safadeza, por não terem suas colaborações escritas, aproximação com a linguagem oral, conforme salienta Godofredo de Oliveira Neto em posfácio do próprio livro.  Graciliano Ramos, ainda de acordo com anotação de Godofredo de Oliveira Neto, “não está procurando propriamente uma realidade oral”, mas aproximar a carga simbólica da escrita do simbolismo da oralidade.  “O essencial da história que o narrador tem na memória – ou na imaginação – não pode ser compartilhado. Aquela realidade (...) só poderá ser descrita pelo próprio Paulo Honório.”
Os conflitos internos do homem, ser humano contemporâneo de 1930, são tema dessa inegável fabulosa obra literária.  A miséria do personagem fica patente em todos os seus contornos e demonstrada como crítica da estrutura social da época – e, muito provavelmente, até hoje, de um modo ou de outro – com valor literário inestimável.  Vale a pena, sem dúvida, ler e reler, sempre, Graciliano Ramos em São Bernardo.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Referências bibliográficas:

São Bernardo . Graciliano Ramos  . Editora Best Bolso . Coleção Vira-Vira .  4ª. Edição  .  Rio de Janeiro . 2012

Uma Teoria do Poema . Domingos Carvalho da Silva . Editora Civilização Brasileira . 2ª. Edição . Rio de Janeiro . 1986

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