A poética de Waly
Salomão
Crítica feroz
e ácida que, no entanto, guarda o lugar cativo da imaginação, da fantasia e do
lúdico, a poética de Waly Salomão transpassa eras, é atemporal. O que, a princípio, poderia parecer datado ou
de citação do século passado – e do
milênio passado – não é desse modo
porque aquilo de construtivista, marginal, alegoria modernista ou qualquer
outra vertente literária existe em seus versos, é, ao mesmo tempo, uma
ressignificação, uma reconfiguração, uma reconexão de uma mixórdia do caldeirão
melting pot carioca baiano e, de fato, e de direito, brasileiro, embora sem
perder o aspecto universal.
O erudito, o
popular, o rigor científico e o populacho escrachado se encontram numa verve
fora do comum em Waly Salomão. Filho de
pai sírio e mãe baiana sertaneja, o poeta soube como ninguém herdar o arcabouço
da poesia marginal, sem contudo, ater-se a esse movimento como única
inspiração. Na verdade, estar à margem –
mote da marginália tropicalista – nunca foi para o autor nenhum
quebra-cabeças. Para Waly, nada mais
natural do que considerarem duvidar de que seu trabalho fosse poesia ou não.
Haja vista que sempre trilhou o caminho da intersecção entre as diversas mídias
rompendo suas fronteiras e além. Nunca pediu passagem, foi passando e quem
quisesse que saísse do seu caminho...
Num de seus
poemas – ou prosa poética – “vaziez e
inaudito” destrincha a vaziez, qualidade do artista que torna seu trabalho ao
mesmo tempo sucedâneo de outros anteriores e rigorosamente novo, colocando “em
suspensão a linha de montagem industrial fordiana” e varando “o inesperado, o
imprevisível”. E isto porque o novo só
pode vir do velho, filosofia das antigas, mas que as novas gerações esquecem
vez por outra; talvez dissesse o poeta se fosse vivo ainda.
O
experimentalismo das vanguardas sempre acompanhou o trabalho poético do autor,
mas não o reduziu a isto. Pelo contrário,
como já disse, Salomão pôde construir uma obra multifacetada e polimorfa ao
longo dos anos de sua trajetória nas letras.
Sempre em consonância com um toque enviesado, um quê de “ladrão de Bagdá
e cozinheiro baiano, piadista de Jequié e ‘leitor luterano’ de Drummond,
profeta de desastres telúricos e cidadão solidário”, conforme coloca Leyla
Perrone-Moisés. Que possamos sempre
revisitar a obra de Waly Salomão em tempos tão carentes de lucidez é condição
sine qua non para o entendimento e compreensão da geléia geral que é o nosso
Brasil. Viva a poesia! Viva Waly
Salomão!
Referências bibliográficas:
Pescados vivos
. Waly Salomão . Editora Rocco . Rio de
Janeiro . 2004
O ano
literário - 2002-2003 . Wilson Martins .
Editora Topbooks . Rio de Janeiro . 2007
Mauricio
Duarte (Divyam Anuragi)
Leia mais em: https://www.divulgaescritor.com/products/a-poetica-de-waly-salomao-por-mauricio-duarte/
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