Texto acadêmico de minha autoria na Revista Acadêmica
Curso de Pós-Graduação em: Docência do Ensino Superior
Nome da disciplina: Fundamentos Históricos e Filosóficos do Ensino Superior
Nome do Aluno: Mauricio Antonio Veloso Duarte
Data: 26/07/2016
Enunciado:
A definição de ideologia é equivoca, dado que o termo registra uma conotação dupla e oposta, isto é, uma conotação negativa e outra positiva. No entanto, tanto a conotação positiva como a negativa tem a vinculação do termo com a noção de conhecimento, de ciência. Trata-se, nesse sentido, de uma questão de adequação à realidade ou de sua deformação, de um problema de verdade/não verdade. Ainda que o conceito ideologia tenha recebido vários sentidos, tais como: conjunto de ideias, pensamento de um autor, organização sistemática dos conhecimentos orientados à prática efetiva, o texto enfatizou a conotação negativa do conceito, vinculando-o à crítica da tradição marxista. Nesse sentido, responda:
a) Defina ideologia.
b) De que maneira ela é produzida?
Qual a sua função nas relações humanas e sociais?
Resposta:
Definições de ideologia
A ideologia é um fenômeno social que se encarna em cada indivíduo particular, modelando, amoldando e/ou formulando a sua subjetividade. Essa subjetividade constrói-se na exterioridade, buscando fora de si, no mundo, as significações da sua estrutura. Sendo uma estrutura concreta, indissociável do corpo, a subjetividade existe como ação e relação entre o homem e o mundo, mediada pela corporeidade.
No sistema capitalista, as relações das pessoas com os meios de produção estabelecem suas classes sociais e a estrutura dessas relações sociais determina as representações ideológicas.
As representações do real, elaboradas pela classe dominante, legitimam o sistema social. Nesse contexto, a ideologia atua como subjugadora das representações contrárias a essa visão de mundo, difundindo e cooptando a unidade ideológica dentro desse mesmo sistema.
A ideologia, portanto, é uma concepção do mundo, um sistema de opiniões que leva o homem a pensar, sentir e agir de uma maneira conveniente ao sistema do status quo. Logicamente, esse sistema também pode ser representado por “agentes” da contra ideologia que denunciam a imposição ideológica da classe hegemônica. A ideologia é um agenciamento pleno de significações construído pela máquina de produção. A ideologia é a lógica de funcionamento da máquina social.
A partir da educação e da escola, bem como de outros “aparelhos ideológicos do Estado”, o indivíduo consome a ideologia ou é consumido por ela e a torna subjetividade, sendo interiorizada pela grande massa da sociedade como algo natural ou normal, aceito como norma por toda a população ou a maior parte dessa população.
A escola, nesse sentido, é a instituição que transmite a ideologia dominante a partir de conceitos, valores e conhecimento. Para Althusser e Gramsci a coesão do todo social depende desse processo de elaboração, sistematização e disseminação do papel ideológico do Estado.
Todo discurso pedagógico é necessariamente um discurso ideológico, inclusive quando se tem um discurso contra ideológico, atuando no sentido da transformação da realidade social. Forças contraditórias são trabalhadas pela educação, uma vez que ela está inserida na totalidade social. Dessa forma, a educação pode atuar na ruptura dos processos de reprodução social por meio de pensamento crítico, reflexão e conscientização dos processos de reprodução social, das relações de poder e das difusões do saber.
No entanto, essa prática é muito árdua no contexto da nossa realidade. Segundo Silvio Gallo, “a função da ideologia é não permitir a emergência destas ‘subjetividades desterritorializadas’, garantindo a territorialização no âmbito daquela lógica social. É, pois, um dos instrumentos de dominação e de manutenção do sistema.” O ser em liberdade, o indivíduo alçado à sua condição de cidadão pleno, não é moeda corrente na atualidade, sendo a alienação, esta sim, aquela que abarca grandes montes da massa populacional.
No processo de singularização (construção autônoma de subjetividade), oposto ao processo de subjetivação (construção heterônoma da subjetividade – ideologia), o indivíduo constrói seu próprio ser, atuando como verdadeiro homem na sociedade. Esse pressuposto, no entanto, é dificílimo, porque a ideologia engole cada indivíduo para dentro dela, de modo que não haja oposição possível.
Sendo assim, a função ideológica da escola é muito mais no âmbito das metodologias de ensino do que no dos conteúdos de ensino. Não importa o que é ensinado, importa como esse assunto ou outro qualquer, é passado para os alunos. Essa função ideológica, portanto, não é inerente à escola, sendo ela um suporte, mais um aparelho ideológico do Estado.
“Sem a função social da ideologia nenhum ato de trabalho seria sequer imaginável”, segundo Sérgio Lessa, porque a ideologia possibilita as prévias ideações indispensáveis aos atos de trabalho. Para isso, os complexos valorativos (moral, ética, costumes, religião, direito) devem estar num polo, assim como o conhecimento científico deve estar no outro polo.
Uma das tendências contemporâneas na evolução do trabalho é exigir que o trabalhador compareça à sua estação no expediente não apenas com seu corpo, mas também com seu espírito. Isso se torna cada vez mais próximo da realidade na medida em que o operário se transforma no próprio patrão no home-office ou na micro e pequena empresa, não existindo, nesse caso, as greves, por exemplo; sendo a extração da mais-valia da força de trabalho que explora, a sua própria.
Superar as alienações do capitalismo só é possível quando buscamos uma sociabilidade numa crítica revolucionária que nos transforme em cidadãos plenos e participantes da sociedade como um todo. É necessário, assim, tornar universal a educação, a fim de difundir uma consciência profunda do ser humano e da comunidade social.
Bibliografia:
Gallo, Silvio. Educação, ideologia e a construção do sujeito. PERSPECTIVA. Florianópolis, v.17, n. 32, p. 189-207, jul./dez. 1999. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/10530/10076] Acesso em: 20/07/2016
Lessa, Sérgio. História e ontologia: a questão do trabalho. Revista Crítica Marxista. Vol. 20, 2005. Disponível em: [http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo112critica20-A-lessa.pdf] Acesso em: 20/07/2016
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