Artes visuais
Escrever sobre artes visuais é como
tentar descrever uma sessão de meditação profunda. Na verdade, é indescritível... É preciso experimentar... As palavras são
boas para o mundo objetivo, pragmático, direto que parece ser nosso destino no
mundo dos negócios e das relações de trabalho, cuja utilização da tecnologia e
da ciência sempre quiseram construir ou estiveram a serviço no projeto
civilizatório. Os poetas, músicos e
compositores – e eu me incluo aqui, como poeta – irão imediatamente protestar. A linguagem poética, no entanto, trabalha, em
geral, na margem, quase como um desvio da linguagem da escrita ou da
oralidade. E é daí, talvez, que venha a
sua maior força: a subjetividade, a dubiedade, o contexto fora de contexto que
diz tudo com tão pouco, apenas... palavras... Ou chega ao âmago do sentimento,
apenas com... palavras...
As palavras, porém, já foram
símbolos, antes de serem palavras. Desde
a escrita de Biblos, cidade fenícia de onde veio o alfabeto daquele povo
comerciante e navegador inspirado nos hieróglifos egípcios – e diferente deles
bem como diferente da escrita cuneiforme dos sumérios – até o internetês dos
KKKKK e dos rsrsrsrs ou dos vc e dos bj, tudo passa pela visualização. E essa visualização tem a sua maior prova, talvez,
no alfabeto hebraico, inspirado no crepitar das chamas do fogo. A palavra é fogo. A imagem pode ser fogo também?
A imagem talvez não, mas o símbolo
sim. Não à toa os praticantes de oração
centrante pedem a Deus para que os livre
“das armadilhas dos sentidos” e os liberte “de símbolos e de palavras”, antes
do período de silêncio, segundo a oração do padre Meninger.
O símbolo é uma imagem elaborada para
ter e deter pregnância visual. No design
gráfico é fundamental para identidades visuais, acompanhando logotipos e
formando identidades visuais corporativas de empresas, instituições,
organismos, governos entre outras possibilidades. A imagem é direta e eficaz quando atua
paralelamente ao símbolo correlacionando ou remetendo ou “parafraseando” visualmente
uma imagem conhecida, que se tornou símbolo, com o passar do tempo ou pela
exaustão de divulgação, falando em artes visuais mais propriamente. Como os livros falam, no final das contas, de
outros livros, assim, muitas vezes, as imagens falam de símbolos, imagens
célebres. As imagens revisitam ou
reconfiguram símbolos que sempre estiveram presentes no imaginário coletivo,
disponíveis para serem “usadas” esperando apenas a mão do artista visual para
aflorarem novamente no universo de todos.
As artes visuais, gravura, escultura,
pintura, ilustração, desenho, história em quadrinhos, animação gráfica,
computação gráfica, dentre outras, podem nos fazer vislumbrar novas concepções
de antigas “ideias” visuais, novas releituras de símbolos que nos levam ao arcabouço
ou repertório visual em nossas mentes por anos de exibição da cultura de massa,
da cultura erudita, do mid-cult ou do cult.
Cabe a cada um conservar ou descartar
“peças” desse arcabouço ou repertório visual na mente e renová-lo ou
alimentá-lo sempre que nos apetecer vislumbrar universos que só um criador
verdadeiro, um artista visual real poderia fazer. E, em tempos de softwares de manipulação de
imagem cada vez mais acessíveis, quem sabe se arriscar num do it yourself e libertar
o criador que existe em todos, potencial ou hipoteticamente. Paz e luz.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
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