domingo, 12 de agosto de 2018

Malebranche




Malebranche

Para Malebranche a diferença entre ele mesmo e Espinoza parecia infinita. E externamente isso era verdadeiro. Espinoza era um judeu, excomungado da sinagoga; Malenbranche um padre cristão. Um foi educado na Cabala, o outro transitava nos escritos de Santo Agostinho.  Mas grande como eram as diferenças externas, julgamentos imparciais simplesmente reconectaram esses dois professores de teologias análogas. Descartes, como nós temos visto, admitia dois tipos de substância – a criada e a incriada – mas na realidade a última era apenas substância real.  Espinoza viu essa inconsistência e fez das substâncias criadas acidentes ou modos da incriada.  Mas essas substâncias criadas são evidentemente de dois tipos – a espiritual e a material.  Elas podem ser reduzidas a uma, ou são, na sua essência, inteiramente distintas?  Descartes tinha a última opinião.  Espinoza sustentava a primeira.  Disto resultou sua crença na unidade original do pensamento e da substância extendida; de Deus como pensamento e da substância extensão.  Malebranche gostaria de manter o nível cartesiano, que elas eram substâncias distintas, e, ao mesmo tempo, remover o dualismo cartesiano.  Ele fez isto supondo que elas se distinguiriam em si mesmas, ainda achando-se unidas em Deus.  Como todas as coisas existem espiritualmente e idealmente na mente divina, Deus é, como foi, o maior significado entre o Eu e o mundo externo – “Nós vemos todas as coisas em Deus.” Malebranche, como um cartesiano, começou com o pensamento.  Nós somos algo que pensa; nós temos ideias. Como nós temos essas ideias? Algumas são imediatas, mas outras são ideias de coisas materiais.  As últimas nos podemos ter também vindas dos objetos em si próprios, vindas da alma que tem o poder de produzi-las, ou vindas de Deus que as produz em nós, que ele tem feito, também na criação, ou podem vir todo o tempo que nós pensamos em qualquer objeto; ou nós podemos conceber a alma como tendo em si mesma todas as perfeições com as quais nós descobrimos nos objetos externos, ou por último, como unidades com um Ser todo-perfeito, que compreende em si mesmo todas as perfeições dos seres criados.  Malebranche examina cada um destes cinco caminhos de entendimento dos objetos externos, para achar objeções a todos, com exceção do último. Seus argumentos para isto estão baseados nas doutrinas das ideias neoplatônicas.  “É absolutamente necessário”,  ele diz,  “para Deus ter em si mesmo todas as ideias de tudo o que os seres que ele criou tem, desde que todavia ele não poderia as ter produzido, e ele vê todas elas considerando-as todas da sua perfeição com a qual elas foram relatadas.” Deus e a alma humana são supostamente tão unidas que Deus pode ser chamado de o “lugar” das almas, como extensão do lugar dos corpos.  Espinoza não poderia ter expressado isto tão bem, nem poderia ter quisto isto expresso melhor.  O atributo principal do corpóreo é a extensão.  Nele os corpos têm seu ser e essência. E como os corpos são constituídos em extensão, como são almas constituídas em Deus.  “É a palavra divina sozinha que nos ilumina pelas ideias que estão nele, para as quais não há duas ou mais sabedorias, duas ou mais razões universais.  A verdade é imutável, necessária, eterna; o mesmo em tempo e em eternidade, o mesmo no céu e no inferno.  A palavra eterna fala a mesma linguagem para todas as nações.” Esse falarem nós da razão universal é a revelação verdadeira de Deus.  É a única maneira de nós possuirmos algum conhecimento das coisas externas.  “Ver o mundo inteligível, é o bastante para consultar a razão que contem essas ideias, ou essas essências inteligíveis, eternas e necessárias com as quais se faz todas as mentes razoáveis e unidas à razão.  Mas para ver o mundo material, ou ainda para determinar que esse mundo existe – porque esse mundo é invisível em sim mesmo – é necessário que Deus deva revelar isto a nós, porque não podemos perceber seus arranjos em que sua escolha nessa razão foi necessária.”
As ideias das coisas materiais nós vemos em Deus, mas as coisas espirituais nós vemos imediatamente em Deus sem o intermédio das ideias.  No espiritual, interno ou ideal mundo nós estamos face a face com a verdade e a razão.  Lá nós vemos não ideias, mas realidades.  Lá nós conhecemos o infinito, não através da ideia dele, mas imediatamente e através dele que nós temos nosso conhecimento de todas as coisas finitas.  Nele o material existe espiritualmente. Antes o mundo foi criado por Deus e sozinho existia.  Para produzir o mundo ele deve ter tido ideias do mundo e tudo que é nisto.  E essas ideias devem ter sido idênticas em si mesmas aos objetos externos.  Deus eternamente sustenta sua ideias.  Essa é a sua conversão com a palavra eterna.  Isto é Deus como Ser, dando a si mesmo Deus, como pensamento – o Pai dando todas as coisas ao Filho.  A palavra divina brilha em suas almas.  Por ela nós vemos me Deus algumas das ideias em si mesmas, mas um espírito criado que não é visto em todas as coisas em si mesmas, porque ela não contem todas as coisas em si mesmas.  Isto vê nelas em Deus, nas quais elas existem.  Quando, por ocasião, nós vemos um quadrado, nós não vemos meramente a ideia mental em nós, mas o quadrado em si mesmo, que é externo a nós.  Deus em si mesmo é a causa imediata da sua visão divina.  Ele nos instrui no seu conhecimento com a naturalidade com a qual os homens ingratos a chamam de natureza.  Ele mostra isto em nós.  Ele é a luz do mundo e o pai da luz e do conhecimento.  Santo Agostinho diz que “nós vemos Deus na vida pelo conhecimento que nós temos das eternas verdades. Verdade é incriada, imutável, eterna, sobre todas as coisas.  Ela é verdade em si mesma.  Ela faz as criaturas mais perfeitas; e todos os espíritos naturalmente vêm para conhecê-la.  Nada a não ser Deus pode ter a perfeição da verdade; embora, a verdade seja Deus. Quando nós vemos algumas verdades eternas e imutáveis, nós vemos Deus.”  Depois de citar Santo Agostinho, Malebranche acrescenta, “Essas são as razões de Santo Agostinho, as nossas diferem um pouco delas. Nós vemos Deus quando nós vemos as verdades eternas, não que elas sejam Deus, mas porque as ideias com as quais essas verdades dependem estão em Deus – talvez Agostinho conceba o mesmo significado nelas”  Começando do pensamento, Malebranche, como Descartes e Espinoza, encontrou a ideia de infinito como a primeira e a mais clara das nossas ideias.  “Isto”, ele disse, “é a melhor, a mais bonita, a mais exaltada, a mais audível prova da existência de Deus.”  Essa é a ideia do Ser universal, que inclui em si mesma todos os seres.  A mente humana pode conhecer o infinito, embora não possa compreendê-lo.  Nós concebemos primeiro o infinito e então nós restringimos a ideia para fazê-la finita, não embora, que essa ideia represente o infinito Ser, tão  longe quanto possa, essa ideia representa algo determinado, mas através da nossa visão podem as trevas serem finitas, nós possamos ver e conhecer Deus como infinito.  Ele é idêntico ao Ser universal.  Nós chamamos ele de Espírito, mas isto não declara o que ele é, mas o que ele não é.  Ele não é matéria.  Ele está muito além do espírito, como o espírito está além da matéria.  O amis alto atributo que nós podemos conhecer disto pode pertencer ao ser que é pensamento ou mente, e embora nós chamemos Deus de Espírito, ele é o Ser perfeito infinitamente.  Como nós demos a ele um corpo humano, devemos dar a ele pensamentos humanos.  Sua mente não é como a nossa. Podemos comparar com a nossa porque a mente é o mais perfeito atributo com o qual nós conhecemos qualquer coisa.  Como ele inclui a si mesmo nas perfeições do Espírito sem ser como um espírito, como nós concebemos espíritos seu nome é AQUELE QUE É.  Ele é o ser sem limitação; todos os seres; sendo infinitos e universais.  E como nós temos essa ideia distinta de Deus como ser, nós temos outra ideia de extensão.  É impossível fazer face à ideia das nossas mentes, para que a extensão infinita pertença ao ser, ou, ao menos, as nossas ideias de ser.  Malebranche não faz da extensão um dos atributos de Deus, mas outorga que tenha feito, depois do que ele tem dito do ser e da extensão.  Ele mantem que a ideia de extensão é eterna e imutável; comum a todas as mentes, a anjos – sim, a Deus, ele próprio – que é o ser verdadeiro e idêntico à matéria. Nós não precisamos projetar quaisquer inferências das doutrinas de Malebranche.  É suficiente presentemente mostrar o paralelismo entre suas visões em Deus, ser, espírito e matéria, com as de Espinoza. Como nossas almas estão unidas a Deus,  e vemos todas as coisas em Deus, nossos corpos têm esta essência em extensão.  Entre as substâncias, matéria e espírito, não há necessária relação.  As modalidades do nosso corpo não podem ser nossas próprias forças a forçarem essa mudança da mente e, ainda, as modalidades do cérebro estão uniformemente em conexão com os sentimentos das nossas almas, porque o Autor do nosso ser tem determinado isto.
E essa ação imediata de Deus não é limitada a mente do homem.  Ela é a mesma em toda natureza.  Deus não tem dado a sua criação, causas secundárias; o que nós chamamos assim, são nada mais, nada menos do que ocasiões para Deus, que é a causa universal, executar seus decretos como ele expressa em vontade que devem ser executados.  É verdade que as Escrituras em alguns lugares descrevem eventos com causas secundárias, como no livro de Gênese, quando é dito: “E a terra foi feita”; mas isso é dito impropriamente.  Na maior parte das Escrituras Deus fala como ator imediato.  Ele comanda as crianças de Israel para honrar a ele como a única causa, tanto do bem quanto do mal, recompensa e punição. “Há algum mal na cidade?” diz o profeta Amós, “e o Senhor não o fez?”  Os trabalhos da natureza são trabalhos imediatos de Deus.  Ele forma todas as coisas.  Ele deu vida e soprou vida em todas as coisas.  Ele causou a grama crescer da terra e a herva para servir o ao homem, que pode trazer comida da terra. Deus nunca deixou seu mundo.  Ele está presente nele agora assim como no primeiro momento da criação – de fato, a criação nunca cessa.  A mesma vontade, o mesmo poder, e  a mesma presença que requeriu a criação do mundo, é requerida a todos momento para preservá-lo.  O que nós chamamos de leis da natureza são nada mais do que expressões da vontade de Deus.  Ele trabalha por leis, mas o trabalho não é, todavia, menos imediato ou menos dependente da sua vontade e poder.
Malebranche nos lembra Espinoza quando ele discursa sobre suas paixões.  A mente humana tem duas relações essencialmente diferentes – uma de Deus, e a outra do corpo.  Isto não é uma comparação sem sentido, como nós poderíamos concluir do que tem sido dito do nosso ver todas as coisas em Deus.  A união da alma com Deus não é menos do que a união da alma com o corpo.  Por essa união com a divina palavra, sabedoria ou verdade, nós temos a faculdade do pensamento.  Por nossa união com o material, nós temos as percepções dos sentidos.  Quando o corpo é a causa dos nossos pensamentos nós apenas imaginamos; mas quando a alma age por si mesmo, em outras palavras, quando Deus age nisto, nós entendemos.  As paixões não são em si mesmas más.  Elas são as impressões do Autor da natureza que inclina a nós o amor ao corpo e a qualquer coisa que seja útil para a sua preservação.  Enquanto nossa união com o corpo seja uma punição pelo pecado, ou um presente da natureza, nós não podemos determinar. Mas nós estamos certos disto, que antes do seu pecado o homem não foi um escravo das suas paixões.,  Ele tinha uma maestria sobre elas.  Mas agora a natureza está corrompida.  O corpo, ao contrário da representação que ele quer da alma, age com violência, vem como tirano e transforma isto do amor e do serviço de Deus.  Redenção não pode ser nada mais do que uma restauração do homem à dominação da alma sobre o corpo, para isto tem Deus reinado entre ele.
Mas essa questão das paixões envolve um a inquirição a mais – o que é o pecado? Se Deus trabalha em qualquer coisa que é real nas emoções da mente, e no que é real nas sensações das paixões, é ele o Autor do pecado?  Malebranche dá uma velha resposta, ao colocar que o pecado não é nada real.  Deus continuamente impele o homem ao bem, mas o  homem para, ele espera; esse é o seu pecado. Ele não segue a liderança de Deus, ele não faz nada e esse nada é pecado.  Se seguíssemos Malebranche simplesmente como um filósofo, como poderíamos vê-lo como um padre da igreja católica apostólica romana, reconciliando  suas especulações com as Escrituras, e os decretos dessas reconciliações?  Ele não tenta os reconciliar ou se ele o fez foi apenas parcialmente.  Onde a igreja não falou que a razão é livre, mas como ela prescreve, quaisquer que fossem as nossas conclusões da razão, nós tivemos que submeter às decisões da igreja. Nós não temos evidência da existência de um mundo externo, mas nós recebemos da autoridade da igreja.  Nossa razão não pode ser confiada nos mistérios da fé.  Eles estão além dos limites das nossas faculdades. A encarnação, a Trindade, a transformação do pão e vinho na Eucaristia no corpo e sangue reais de Cristo, quem pode entender?  É bem um exercício da nossa razão que subjaz questões pressupondo que possam ser tomadas não há razão para que o autor de todas as heresias deva à igreja?  Ainda Malebranche usou sua razão, para depois todo homem não possa ajudar usando sua razão, até sendo ele um padre na igreja católica apostólica romana.  Malebranche tinha uma grande teoria – proveitosa como a de Jacob Boehme – de que todas as coisas foram feitas para a igreja redimida.  Esse mundo é finito e imperfeito, mas em Jesus Cristo ele se torna perfeito, e de infinito valor.  Jesus Cristo é o começo de todos os caminhos de Deus – o primeiro nascido entre os muitos que tiveram o sopro divino.  Deus ama o mundo apenas por causa de Jesus Cristo.  Até Deus ter tido essa vontade, o pecado não existia no mundo e, ainda, Cristo, a eterna palavra, deveria se unir ao universo e fez isto proveitosamente em Deus.  Cristo teve um interesse no homem, independente tanto do pecado quanto da redenção.  Deus vislumbrou antecipadamente a existência do pecado.  Ele decretou dar a Jesus Cristo um corpo para ser vítima com a qual ele iria oferecer para o necessário de que todo padre precisaria oferecer.  Deus através do corpo do seu Filho assim como quando formado que foi Adão, deu a todos um corpo que nós vamos sacrificar, como Cristo sacrificou seu corpo.

Livre tradução do livro Pantheism and Christianity de John Hunt . 1884 . Capítulo XII . Moderno Idealismo . Malebranche

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