segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Análise da obra “O Vencedor está só” de Paulo Coelho



Análise da obra “O Vencedor está só” de Paulo Coelho

A literatura real não pode e não deve estar a serviço ou a reboque de outras questões, aspectos ou perspectivas que não sejam as literárias. Concordo e assino embaixo.  Porém, se um artista possui predileção, inclinação ou apreço por determinado tema, pode e deve abordar esse tema, sempre que quiser e, se não o fizer, corre o risco de ser apenas uma farsa e não um escritor real.    Portanto, o oculto, o místico e a espiritualidade, sendo temas caros ao escritor Paulo Coelho, é natural que sejam recorrentes em sua obra.
No entanto, o místico ou o religioso não é a única pedra de toque na obra do autor.  Inclusive, livros recentes como O Vencedor está só, Adultério e Manuscrito encontrado em Accra tem como mote questões existenciais, morais e filosóficas mais do que propriamente místicas ou esotéricas.  Esses livros também foram best-sellers ao lado de outros, muito mais voltados para a espiritualidade.  Sendo recorde de vendas, mais do que isso, esses livros tornaram-se representativos da obra do autor, tanto quanto os primeiros livros, como o Alquimista ou Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei, por exemplo.
Pesquisadores enganaram-se e enganam-se redondamente ao identificar a literatura  de Paulo Coelho a uma militância da Nova Era.  A literatura do grande escritor está além de qualquer militância de movimentos ou escolas esotéricas.  O material tratado pelo criador é o ser humano, com suas múltiplas facetas e com inúmeras abordagens possíveis e imaginárias.
Como sou designer gráfico de formação, as artes visuais sempre me fascinaram – e fascinam – e hoje como artista plástico, além de escritor, vejo com bons olhos a invasão de imagens no imaginário do homem contemporâneo.  As imagens tornam a comunicação mais fácil e mais rápida em vários sentidos e remodelam um mundo em constante mutação.  Não há retorno possível.  As comunicações são cada vez mais interativas, intuitivas e... visuais. Paulo Coelho foi um dos escritores que perceberam essa mudança, soube e sabe, como ninguém, tirar proveito desse fator imagem com uma narrativa fluída e rápida, totalmente adequada aos olhos da atualidade.  A literatura se não se adaptasse a esses novos tempos seria engolida pelas outras mídias, como o cinema e a TV.  Isso não aconteceu e, ao contrário, há um ressurgimento de novos leitores e novos autores, aos quais, muitos, sendo alvos de severas críticas, dentre elas, a literatura de Paulo Coelho.
A imagem, sendo um aspecto preponderante nas comunicações atuais, tornou-se ainda sinônimo de busca do sentido da vida numa realidade caótica e desestruturada onde a palavra, a mensagem escrita não dá mais conta de (re)significar o universo e o cotidiano das pessoas.  Dentro desse contexto, a literatura de Paulo Coelho é voltada para um público que anseia por experiências individuais de aproximação do sagrado que vão até o cerne da alma e da vida.  Visceralmente, o autor narra histórias que poderiam ter como protagonista qualquer pessoa do mundo em qualquer lugar e qualquer tempo.
Um trecho do livro O Vencedor está só do autor, nos brinda com sua maestria a tratar de temas tão complexos e variados como a vaidade humana ou a riqueza:
“Diamante, o material mais resistente e mais duro criado pela natureza, que só pode ser cortado e lapidado por outro.  As partículas, os restos dessa lapidação serão utilizados na indústria, em máquinas de polir, cortar e nada além disso.  Diamante serve apenas como uma joia, e nisso reside sua importância: é absolutamente inútil para qualquer outra coisa.
A suprema manifestação da vaidade humana.
Há poucas décadas, com um mundo que parecia se voltar para coisas práticas e para a igualdade social, estavam desaparecendo do mercado. Até que a maior companhia de mineração do mundo, com sede na África do Sul, resolveu contratar uma das melhores agências de publicidade do planeta.  Superclasse encontra-se com Superclasse, pesquisas são feitas, e resultam em apenas uma única frase de três palavras:
‘Diamantes são eternos.’
Pronto, o problema estava resolvido, as joalherias começaram a investir na ideia, e a indústria voltou a florescer.  Se diamantes são eternos, nada melhor para expressar o amor, que teoricamente deve também ser eterno.  Nada mais determinante para distinguir a Superclasse dos outros bilhões de habitantes que se encontravam na parte de baixo da pirâmide. “ (O Vencedor está só . Paulo Coelho . Pocket Ouro .  Ediouro . Rio de Janeiro . 2008)

Texto originalmente publicado no Programa Meu Patrono Visto por mim da Academia Virtual de Letras Antonio Aleixo.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)


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