sexta-feira, 25 de março de 2022

À BEIRA MAR... CANTO! . Regiana Tavares poesia


 


À BEIRA MAR... CANTO! . Regiana Tavares

poesia

Agradeço muito à Vanda Salles, que me convidou para escrever o prefácio da obra que ela revisou na Editora ZMF e à autora Regiana Tavares que me deu a oportunidade.
Minha participação no livro À BEIRA MAR... CANTO! da poetisa Regiana Tavares, como prefaciador:

Prefácio

Um compasso musical, uma harmonia de musicalidade. Desse modo me vêm as primeiras impressões da poesia de Regiana Tavares. À BEIRA-MAR... CANTO! transborda versos que a poetisa deixa fluir, sem amarras, saboreando cada palavra, cada verso. Obviamenrte, não se pode compor música ou escrever poesia com regras de notação musical ou com métricas poéticas na cabeça. E a autora sabe disto. Sua desenvoltura e flexibilidade são de um fluxo de imaginação do olhar fora do comum...
Regiana não se contenta com soluções fáceis. Conforme diz Luiz F. Papi, “Nunca é demais salientar que a poesia é necessária”. Também Regiana Tavares sabe disto... E se cito o artista múltiplo Papi, é também por outra razão: assim como a escritora poeta, Papi, teve como norte nunca abandonar seus princípios ideológicos, mas, ao mesmo tempo, seu lado lírico nunca deixou de ser marcante. Dessa mesma forma, ocorre o desenvolvimento da singular poesia de Regiana. O trato com o popular, com aqueles que “não têm cultura, têm folclore”, é, na poesia da autora, uma miríade de constelações que brilham. A gente do povo e as coisas da gente do povo brilham nos seus versos.
Nos pratos típicos: O aratum, o pirão com farinha seca, o uçá, os guaiamuns, teredos, sururus, o inhambu, o inhame, o xerorô, a sericora do brejo. Nas paisagens: O vento guimaranil, palafitas nas margens do mangue, manguezais à beira-mar, Manguezal em Barriguinha-Guimarães, Ponta da Areia. Uma profusão de termos das culturas populares surge como que espontaneamente no seu versejar. O seu canto é um canto daquela periferia brasileira, cujos sonhos são esquecidos ou deixados de lado.
Mas a poesia de Regiana não é poesia marginal, a não ser que tivéssemos a arrogância de considerar ou dizer que consideramos o terreno da erudição e da alta cultura como o único terreno próprio da verdadeira poesia ou literatura. Aí estaríamos frontalmente contra a tendência da ciência da arte, conforme postulada até mesmo na própria academia de amálgama da arte erudita e popular, se interpenetrando e se interconectando uma na outra.
Não quero, com isto, dizer que a poeta é vítima ou defensora do atual cenário polarizado entre esquerda e direita na política, que nos assola. Não. Ela, antes, se remete, se refere ou se reporta, – consciente ou inconscientemente, não importa tanto nessa nossa atualidade pós-pós-moderna ou pós-pós-tudo – a uma vertente antiga do modernismo da década de 1930, na qual a esquerda e a direita se influenciavam uma a outra, tanto na política quanto no imaginário da literatura. Logicamente, porém, o lado de Regiana, que influencia “o outro lado”, é o lado do povo, o lado da gente simples, que pouco ou nada têm, em contraste com o lado dos que muito ou tudo têm, num verdadeiro abismo social.
Por fim, é preciso dizer duas coisas sobre a poesia de Regiana: O profundo respeito pela sabedoria dos mais velhos, pela tataravó Severiana e pela avó Joana, por exemplo, é arraigado em sua pessoa, de modo visceral. E para além de qualquer dificuldade física, psicológica e/ou financeira, Regiana Tavares não deixa a desejar, em seu trabalho, a nenhum poeta. Famoso, ou não.
Convido todos a beber essa água da fonte de Regiana Tavares, da qual se pode saciar a tão voraz ânsia de literatura, arte e cultura, que tanto nos acomete nesses tempos ávidos por poesia.

Mauricio Duarte

Escritor, poeta, artista visual, ilustrador e designer gráfico
Membro Efetivo da AGLAC, SAL, AVL e ACILBRAS
Membro Correspondente da ALTO
23-11-2021

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