terça-feira, 23 de abril de 2013

Solidão do espelho



Solidão do espelho

Bafejei no espelho
para limpá-lo.
Enquanto limpava a bafagem com um pano,
no vidro do espelho,

Vi deuses do Olimpo carregados por nuvens,
vi anjos esvoaçando ao céu,
vi demônios de dois chifres espetados,
vi bauteau muches, vi Titanics.

Vi o enorme clamor da minha alma
por um céu que não existe mais.
Vi o silêncio do amor perdido
que estava comigo até agora a pouco.
Vi o afago de carinho
que eu não tenho.

Vi carros,
vi condutores de carros,
vi letras mortas de antigos manuscritos,
vi navalhas cortando carnes, vi as carnes.

Vi a morte da minha esperança
que foi e que não é mais.
Vi a calma falsa de como eu
faço a barba.
Vi canalhice de todos os políticos
no jornal diário.

Quando finalmente acabei de limpar,
no vidro do espelho,
olhei e não era eu refletido.
Era um resto de coração solitário
que se arrasta pelas crateras da lua.
Sozinho...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

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