Para viver em sociedade é preciso ser extrovertido? Não há lugar para os tímidos, os recatados,
os recolhidos? Pois bem, não há lugar
para mim então... Mas como é ser tímido?
É como se viver olhando pela janela fosse melhor do que passar por uma
porta; é ser coadjuvante discreto no mundo exterior para ser ator principal no
seu mundo interior, que, a princípio, para o tímido, é muito mais importante.
Não que
eu seja tímido a ponto de me tornar taciturno, triste. Mas sou silencioso sim. Prefiro a solitude à solidão. Sou introvertido sim, mas com limites. Gosto de uma boa conversa com amigos, gosto de
passar tempo em companhia de outras pessoas.
Mas nada que interrompa o fluxo de meus pensamentos no meu mundo
interior, nada que me faça destoar da música que canto interiormente, minha
reserva pessoal de paz e interioridade.
Tampouco
sou dado às multidões, às concentrações de muitas pessoas. Irrito-me um pouco na massa, embora seja bom
imiscuir-me na multidão (só mais um, no meio de tantos) não sinto atração pelos
eventos coletivos de grande monta, como shows (só se for ao ar livre, aí passam
uma energia boa) ou cinema (embora eu adore um bom filme). Também não gosto de reivindicações
coletivas. Nem no auge das minhas
militâncias sociais juvenis eu participei de passeatas, manifestações ou
protestos. Não faz parte da minha personalidade. Prefiro ficar numa boa biblioteca, visitar um
museu ou um centro cultural.
O que
quero dizer é que o sentido mesmo de pertencer a um grupo não me atrai, a ponto
de hoje eu estar em profundo mergulho no meu eu interior para criar arte e
literatura. Mas hoje é quase impossível
ser assim ou estar assim em algum momento, porque somos solicitados a
participar de grupos quase que o tempo todo. Apesar de todo o verniz de
absoluto apoio ao individualismo pela nossa sociedade de consumo. Esse apoio só se verifica, a rigor, se não
impede o indivíduo de consumir os produtos e/ou serviços da mídia em geral.
Hoje em
dia, dizer-se introvertido é condenar-se e poucos são os que se apresentam
assim, mesmo quando são assim, sem sombra de dúvida. Disfarçam, sorriem, fazem gracejos, tudo para
maquiar a própria solitude de personalidade.
Encenação devidamente vigiada pela ditadura da extroversão, a ponto de
levar a sérios problemas psicológicos ao não aceitar-se a si mesmo como é.
Enfim, se
não há lugar para os tímidos, o lugar mesmo não é digno desse nome. Porque sempre existiram e sempre existirão
aqueles para quem a janela é melhor do que a porta no mundo exterior e a porta
é melhor do que a janela no mundo interior.
Viva os tímidos!!!
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)