domingo, 3 de novembro de 2013

Eu, introvertido?



                Para viver em sociedade é preciso ser extrovertido?  Não há lugar para os tímidos, os recatados, os recolhidos?  Pois bem, não há lugar para mim então... Mas como é ser tímido?  É como se viver olhando pela janela fosse melhor do que passar por uma porta; é ser coadjuvante discreto no mundo exterior para ser ator principal no seu mundo interior, que, a princípio, para o tímido, é muito mais importante.
                Não que eu seja tímido a ponto de me tornar taciturno, triste.  Mas sou silencioso sim.  Prefiro a solitude à solidão.  Sou introvertido sim, mas com limites.  Gosto de uma boa conversa com amigos, gosto de passar tempo em companhia de outras pessoas.  Mas nada que interrompa o fluxo de meus pensamentos no meu mundo interior, nada que me faça destoar da música que canto interiormente, minha reserva pessoal de paz e interioridade.
                Tampouco sou dado às multidões, às concentrações de muitas pessoas.  Irrito-me um pouco na massa, embora seja bom imiscuir-me na multidão (só mais um, no meio de tantos) não sinto atração pelos eventos coletivos de grande monta, como shows (só se for ao ar livre, aí passam uma energia boa) ou cinema (embora eu adore um bom filme).  Também não gosto de reivindicações coletivas.  Nem no auge das minhas militâncias sociais juvenis eu participei de passeatas, manifestações ou protestos. Não faz parte da minha personalidade.  Prefiro ficar numa boa biblioteca, visitar um museu ou um centro cultural.
                O que quero dizer é que o sentido mesmo de pertencer a um grupo não me atrai, a ponto de hoje eu estar em profundo mergulho no meu eu interior para criar arte e literatura.  Mas hoje é quase impossível ser assim ou estar assim em algum momento, porque somos solicitados a participar de grupos quase que o tempo todo. Apesar de todo o verniz de absoluto apoio ao individualismo pela nossa sociedade de consumo.  Esse apoio só se verifica, a rigor, se não impede o indivíduo de consumir os produtos e/ou serviços da mídia em geral.
                Hoje em dia, dizer-se introvertido é condenar-se e poucos são os que se apresentam assim, mesmo quando são assim, sem sombra de dúvida.  Disfarçam, sorriem, fazem gracejos, tudo para maquiar a própria solitude de personalidade.  Encenação devidamente vigiada pela ditadura da extroversão, a ponto de levar a sérios problemas psicológicos ao não aceitar-se a si mesmo como é.
                Enfim, se não há lugar para os tímidos, o lugar mesmo não é digno desse nome.  Porque sempre existiram e sempre existirão aqueles para quem a janela é melhor do que a porta no mundo exterior e a porta é melhor do que a janela no mundo interior.  Viva os tímidos!!!

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

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