segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Caminhos 5


Caminhos 5
nanquim s/ papel
21 x 29,7 cm
2014
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Apenas fique

Apenas fique
Não me atire
sua culpa não.
Eu não a tenho.
Não me atire
um murmurar não.
Não provoquei.
Não me atire
a angústia.
Que eu não quero.
Apenas fique
e eu ensino
como engolir,
deglutir e dar
por nós, sempre sim,
o infinito...
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

O grande paraíso dos que não sabem sorrir

O grande paraíso dos que não sabem sorrir
Fui munido de arame farpado e dor,
a fim de separar, cindir mesmo os dois,
para que nunca se vissem: ego e amor.
Ora o ego dizia: isso é o fim,
eu preciso do amor para existir,
sem o amor não posso, não sou nada, enfim.
E ora o amor falava: assim não dá,
Sem o ego para sustentar, como serei
a âncora para trazer prazer, quem irá?
Ego e amor olharam-se; não pude ir,
não pude completar a minha viagem ao
grande paraíso dos que não sabem sorrir...
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Se estiveres esperando...

Se estiveres esperando...

Se estiveres esperando por
uma redenção, é espera vã
porque nada tenho para te dá...

Se estiveres esperando por
um amor, espere um pouco
mais ou menos, tanto faz, será?

Se estiveres esperando por
uma vida, tenho a minha, é
pouca para mim, para ti, quiçá?

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Ladrão de ametistas místicas

Confira o poema de minha autoria Ladrão de ametistas místicas na Antologia Fênix Logos .  .http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/LOGOS-10SET-2014-poesia-43.htm

LADRÃO DE AMETISTAS MÍSTICAS
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Duas gemas estavam lá
à minha frente, pois sim.
As duas tinham seguido
com o meu erro por cá...

Eu tinha surrupiado
aqueles dois brilhantes.
Eles a me ver com um ver
mais do que ampliado...

Da mesa a brilhar muito,
as duas olhavam-me sim.
Bem ou mal; não saberia.
Enfim, não era fortuito...

As jóias e o seu brilho,
eu e minha consciência.
Tudo isso, nada disso.
O destino era trilho...

Trilho dessas casuísticas.
Levam a culpar todos
por faltas, pecados, tantos.
Ametistas e místicas..

sábado, 13 de setembro de 2014

A magia por testemunha

A magia por testemunha

Da janela do enorme trem de ar, eletro-foto-voltaico, o delegado Sófocles Mor avistava a mega cidade.  O reino de Vera Cruz do Brasil fora unificado em 2999 por Dom Hermano de Roldão e o lugar era sua jóia mais rara desde aqueles já distantes tempos. Localizada onde outrora se erguia o município do Rio de Janeiro, a conurbação – melhor dito assim – surgira do encontro de municípios vizinhos que se agigantaram tanto, que da continuidade dessas cidades nascera a megalópole de Santelmo.
O oficial da polícia de meia-idade sabia que aquilo era uma armadilha.  Quando havia sido designado como investigador para um caso que mal conhecia numa cidade onde só tinha estado duas vezes na vida, era lógico que algo estava errado, muito errado. Os figurões de Bhar´host, a capital do reino certamente estavam querendo, mais uma vez, minar as forças do Arcano 18, movimento do qual o chefe de polícia era signatário.  Segundo a carta de intenções do movimento, seus integrantes se prontificavam em usar a magia apenas para fins altruísticos e do bem comum em geral, defender a democracia a todo o custo e sob todas as circunstâncias e instâncias.  Mas muitos nutriam um ranço enorme contra qualquer coisa que se ligasse à arte maior. E eram esses que esperavam que Sófocles falhasse.
O assassino em série que já havia feito doze vítimas em Santelmo era o caso.  A julgar pelas vítimas, o criminoso só poderia ser um fanático religioso que se insurgia contra a prática de magia no mundo.  Sófocles lembrava muito bem como tudo aquilo havia começado: O reconhecimento da força dos cristais -- como ametista, topázio, rubi, e outras – eram simples pedras preciosas ou nem isso para o homem do século 21 e como isso havia mudado desde que Dom Von Brauer, o famoso mago e estudioso codificara e catalogara grande parte das jazidas de cristais místicos recém encontradas. A partir dali, tinha sido um passo para o conhecimento, há muito esquecido da feitiçaria cerimonial, surgir no mundo.
Tirou os olhos da janela e caminhou para fora do seu compartimento, indo em direção do bar no trem, local de acesso geral dos passageiros.  Precisava limpar a garganta e nada melhor do que um drink para isso.
Estava bebericando seu copo de whisk quando surpreendeu-se com uma moça jovem, muito bem vestida e maquiada que o olhava insistentemente. 
-- Tem alguma coisa para mim? – perguntou o homem aproximando-se.
-- Sim. – Sorriu maliciosamente a mulher. – Aqui está. – disse estendendo um pacote para as mãos de Sófocles.
-- O que é? – perguntou ao receber o embrulho.
-- O que é o que? Oh meu Deus... eu... quero dizer... estava falando com o senhor? Oh... estou tão confusa. – mudando o semblante na mesma hora em que passara a entrega, a moça agora não exibia nenhum traço da malícia de alguns segundos atrás.
-- Não foi nada. Não se preocupe. Venha aqui para o bar. Tome um copo d´água.—disse o investigador que sabia exatamente o que tinha se passado. Sabia como essas coisas funcionavam. Um leve encantamento, de uma distância segura, havia sido realizado para que a “mula” efetuasse uma entrega para a pessoa desejada, no caso o próprio Sófocles. Mas a vítima do passe de mágica não se lembraria de nada quando fosse feita a entrega. E o operador certamente não estava mais nas imediações. Indução pós-hipnótica diriam alguns estudiosos céticos; magia pura, diriam outros, devotos da magia.
Quando viu que a moça estava melhor, aceitando que não podia se lembrar do que havia ocorrido nos últimos minutos; Sófocles apressou-se em voltar para o seu compartimento para ver do que se tratava a entrega.  Ao abrir o pacote, ficou ainda mais intrigado: chips de visualização holográfica.  Pôs os óculos 3D e pôs-se a vislumbrar o conteúdo daquilo.  Nada mais, nada menos do que a conversa com o chefe Kairós Plexo, quando Sófocles ficara sabendo do caso em questão, estava gravada na holografia. Mas como?  Como o assassino tivera acesso a isso?  No final da apresentação, o que o homem de investigação já esperava, uma ameaça: “Você é o próximo.”
Depois de ter completado a viagem de trem, Sófocles Mor subiu em seu mini-planador foto-voltaico que costurou o ar por cima da imensa avenida que dava para o portão da delegacia.  Devia ter vindo a pé, pensou o homem após dar-se conta que já tinha chegado em seu destino.  “A pé eu poderia sentir as ruas, o sabor azedo de suas ruas imbricadas por ruelas repletas de crueldade, suor, lágrimas e sangue.” Concluiu seu pensamento.
Eram essas ruas, o berço perfeito da criminalidade. O que outrora tinha sido a grande esperança no futuro, hoje, no ano de 4015, não passava de um arremedo do sonho de Vera Cruz do Brasil. Os da primeira classe quase não tomavam conhecimento dessas partes.  Estes circulavam apenas pelos grandes condomínios e casas comerciais de luxo do show bussiness, das autoridades políticas e dos oficiais administrativos e das forças armadas.  Sempre com créditos suficientes para uma rápida saída do “bunker” onde estavam para outro “bunker”.
-- Fez boa viagem, Sófocles Mor? – indagou o oficial Clisóstemes Grasso, seu superior imediato na corporação policial e também membro do Arcano 18, quando viu o homem adentrar à delegacia.
-- Sim, muito boa viagem. Obrigado por perguntar. – respondeu rapidamente e sem pestanejar, Sófocles. Notando que sua resposta imediata havia sido sucedida por uma reação intempestiva do colega ou, senão, tinha a resposta provocado mesmo, um ligeiro atordoamento e irritação no semblante de Clisóstemes, o homem fechou-se em meditação.
 O dia passou-se num imenso e caudaloso desfilar de papeladas e protocolos mil que Sófocles conduziu da melhor maneira que pôde.  Ao findar aquela etapa, achou que o crime era muito peculiar a alguém com um bom nível.  O assassino deixava uma única assinatura identificável entre as inúmeras formas de matar: a morte por asfixia. E todas as suas vítimas eram magos e sacerdotes ou sacerdotisas mágicos. Porém, por incrível que possa parecer, os corpos das vítimas não aparentavam sinal de luta, violência, sufocamento, nada. O emprego de algum artefato mágico poderia ser aventado de maneira bastante incisiva, no entanto, se o criminoso era contra o uso de magia... como poderia ser? Magos tem inimigos e, por vezes, numerosos. Talvez essa investigação estivesse sendo conduzida erradamente.
Ao final da semana, nenhuma conclusão havia sido tomada pela equipe policial. A população já começava a levantar rumores e hipóteses. Diziam tratar-se de um lobisomen, outros diziam que era um vampiro e, outros ainda, que só poderia ser um chupa cabras alienígena.  Num mundo onde não existia a magia, tais prosódias eram imediatamente passadas por piada com um inevitável riso. Mas num mundo onde a magia existe, a imaginação grassa solta e todos são construtores latentes do imaginário de suas egrégoras. Por mais estapafúrdias que fossem as suas opiniões e por mais sem influência que uma pessoa fosse, qualquer frase dita sem a devida reflexão “empurrava” a realidade para uma outra posição.  E se isso era verdade em se tratando de um cidadão comum, mas verdade ainda tornava-se em se tratando de um chefe de polícia.  Por isso, Sófocles Mor que conhecia bem os meandros de todo aquele novo mundo de feitiços, rituais e muita atitude mística, não deu nenhuma declaração à imprensa, deixando essa incumbência apenas para os oficiais de Santelmo que já tinham o traquejo com situações como essa.
Sozinho à noite, no seu quarto, Sófocles já tivera três imersões holográficas com a sua esposa, tentando tranqüilizá-la, dizendo que tudo acabaria bem, que logo o caso teria um fim e seu marido voltaria para casa são e salvo.  Mas não era bem isso o que tinha em mente. Planejava uma ação perigosa, muito arriscada que no fim, poderia dar certo e revelar o assassino.  Já que esse tal criminoso queria a sua pele, o homem se daria como isca numa armadilha.  Mas essa armadilha seria nos termos do policial e não nos do malfeitor.
-- Vamos ver, vamos ver. – dizia para si mesmo enquanto consultava os arquivos virtuais do Grimório de Acalanto na visualização holográfica com os óculos 3D. -- O antigo ritual do resgate do anel de força.  Sim, isso mesmo. – repetiu.
A última vítima do assassino tinha sido Katana, uma feiticeira graduada em todos os níveis e membro do Arcano 18.  Aliás, todas as vítimas mortas tinham alguma ligação com o Arcano 18, ou eram membros ou eram amigos e/ou parentes de algum signatário do movimento.  Mas algo dizia a Sófocles Mor que a situação era ainda mais complexa.
 -- O que você pretende? – perguntou Sersi Allas, a policial encarregada de auxiliar a Sófocles, quando o homem solicitou o anel de força de Katana no outro dia, retido para averiguação da delegacia.
-- Uma viagem mística. – respondeu o homem, misteriosamente.
Quando o anel chegou às suas mãos depois de imensa burocracia, o chefe de polícia pediu um recinto fechado, cerrou os olhos e deu início ao ritual, recitando palavras há muito esquecidas que o levavam para a presença de civilizações perdidas em frente do anel.
De repente, flashes de acontecimentos da vida de Katana vieram como num rasgo da realidade saindo do anel com o cristal de ametista. Sua grande ansiedade para estudar a magia cerimonial. Os títulos e honrarias que recebera.  Sua vida familiar com o esposo e os três filhos.  O reconhecimento por ter se dedicado tanto e, finalmente, o medo.  Medo de um assassino que circulava na cidade e escolhia seus alvos tanto nos guetos quanto nas ordens superiores e místicas, não fazendo distinção. Um fanático que... sim... isso era significativo, havia a ameaçado anteriormente ao falecimento.  Ele era... E matou... desse modo...
Subitamente, os flashes se fecharam e o anel de poder retomou seus segredos.  Sófocles Mor vomitou ao voltar à realidade e, quase caindo na inconsciência, teve tempo de sacar sua arma de fótons ao vislumbrar um vulto armado entrando na sala em que estava como havia esperado. O assassino vinha encobrir a sua identidade.  Disparou um último feixe fotônico antes de cair desacordado.
-- Como você está, herói? – perguntou Sersi Allas ao visitá-lo no hospital de Santa Granada, o maior e mais completo centro cirúrgico de Santelmo.
-- Estou bem.  Mas ainda não pude falar com minha esposa. – disse o homem com um fiapo de voz.
-- Ela está aqui agora no visualizador holográfico, tome os seus óculos 3D.
Sófocles explicou detalhadamente e demoradamente à sua conjugue, tudo o que havia ocorrido e não foi poupado de vários puxões de orelha por ter se arriscado tanto.
-- Pronto. Ela está mais calma agora. – disse finalmente livrando-se da parafernália tecnológica. -- E o que vai acontecer agora? – perguntou depois Sófocles.
-- Vão abrir um processo e arquivar o caso. O assassino era Clisóstemes Grasso. Mas para todos os efeitos, nosso superior morreu ao cumprir o dever.  O assassino desconhecido vinha para fazer a próxima vítima, no caso você.
-- Quando de repente...
                        -- Quando de repente Clisóstemes se interpôs entre você e o criminoso, conseguindo evitar a sua morte, mas vindo a falecer logo depois.
                        -- E tudo acaba bem em Santelmo. Quando sair daqui vou beber muito whisk.
                        Clisóstemes Grasso, o nosso assassino verdadeiro, mas não reconhecido, utilizava um antiqüíssimo encantamento muito simples, mas muito letal e, por isso, devidamente esquecido. Nos flashes da vida de Katana, Sófocles teve acesso ao que ocorrera. O operador criava um campo de força invisível em volta e em torno da cabeça da vítima, que sem receber oxigênio durante longo tempo, e sem ver o que acontecia, acabava duvidando de sua devoção mágica e aí todas as defesas caíam por terra, falecendo logo a seguir.    

O certo era que Santelmo vivia uma nova era.  E nesse tempo, nem mesmo o Arcano 18 estava livre da corrupção e da desvirtuação dos valores democráticos. “Que o Arcano Maior tenha piedade de nós”, pensou Sófocles Mor, enquanto se levantava da sua cama no hospital.

Quando a arte fala

Quando a arte fala

A escultura falou
e disse: alto lá tu,
que pensas em se matar.

A vida só começou,
não tem porquê essa, ô.
Deixa mundo acabar.

A pintura falou
e disse: espera tu
que estás por desistir.

Jornada mal começou.
Essa mesma, tão morta,
esquecida, existir.

A instalação falou
e disse: vem inovar,
tu que não gostas disso.

Segue sempre caminho
trilhado, conhecido;
bebe, aspira isso.

A gravura falou, sim
e disse: esperança
ainda tá conosco.

Servindo, atuando
como guia mesmo, é.
Transmutação convosco.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) 

terça-feira, 9 de setembro de 2014