quinta-feira, 7 de maio de 2015

Cosmogênese da plenitude

Cosmogênese da plenitude


O bem e o mal e os seus antagonismos são conceitos arraigados à nossa cultura e quando o maniqueísmo passou a ser a tônica do pensamento religioso, isso tomou proporções gigantescas.  Porém é muito certo que o dualismo entre Deus e o diabo existisse bem antes de Maniqueu e sua doutrina sincrética.  Transitando entre elementos do zoroastrismo, hinduísmo, budismo, judaísmo e cristianismo, visava purificar as mensagens de cada uma dessas religiões, apresentando uma verdade completa.  Mas essa verdade não podia ser plena, nem verdadeira, de forma nenhuma.
O mundo é feio, concordamos nisso?  Porque se fosse bonito, não haveria violência, guerras, genocídio, suicídio, exploração, corrupção e toda sorte de males.  Mas se Deus tivesse criado as pessoas como mecanismos, rôbos ou escravos, o mundo seria bonito, mas o homem sem significado.  A escolha entre uma ação má e uma ação boa tem que existir.  Essa escolha está no cerne da liberdade humana e também no cerne do respeito divino para conosco.
Uma árvore não tem escolha.  Uma roseira é uma roseira e ponto final.  A árvore, bem como o cachorro, a borboleta e todos os seres vivos irracionais estão predestinados, tão embebidos com a própria existência, com a própria vida, que não podem escolher.  Não são livres. Nós somos livres, temos escolhas a fazer. 
E a liberdade é a maior glória e a maior agonia do ser humano.  Segundo Osho, se um Buda não pode ser um Hitler, se a própria possibilidade for negada, então o Buda é apenas uma estátua, sem sentido.  O fanatismo acaba com a dúvida e, consequentemente, com a escolha.  Você simplesmente segue o que uma doutrina determinou, determina e determinará.  Se você tem que seguir ideias pré-concebidas que moldam seu comportamento e fazem você “ser bom” de acordo com aqueles preceitos, então não há nenhum ponto nisso, nenhum ganho nisso.
A cada decisão o ser humano pode fazer opções, escolhas e aí reside sua plenitude.  Plenitude que é impossibilitada muitas vezes no nosso mundo.  Porque há muito investimento na dicotomia entre bem e mal na nossa cultura, apoiado pelo capitalismo e pelo status quo como um todo. A lealdade é um artigo muito caro para o sistema.  Mas será que a lealdade é mesmo um valor a ser tão preservado?  Lealdade é próprio dos animais domésticos ou domesticados, cachorros, cavalos e ovelhas.  Ou é próprio de samurais, soldados e guerreiros.  Um ser humano é muito mais do que um animal doméstico, sem querer menosprezar nem desfazer desses nossos amigos de quatro patas.  Inclusive no budismo, pode ser ensinado sobre Buda a um animal.  Um ser humano também é muito mais do que um samurai, um soldado ou um guerreiro.  Essas são profissões, atribuições, mas nem de longe, o todo do homem.  O ser humano pleno não pode ser leal a uma ideia, a um sistema ou a um governante. No sentido em que me refiro à lealdade, isso implica em tornar o homem fragmentado e é o que geralmente acontece na maioria das vezes nas quais temos uma coerção ou uma sujeição a um conjunto estabelecido de códigos ou a um grupo de soberanos.
O ser humano pleno pode atingir a iluminação e tornar-se um Buda, um Krishna, um Cristo.  A consciência cósmica abarca os conceitos de dentro e fora, positivo e negativo, tempo e espaço e... do bem e do mal.  Deus é um dançarino mais do que um pintor; sua obra está em curso, sempre em curso, nunca finalizada e nunca separada Dele. A cada momento a história, a nossa história é continuamente escrita e reescrita como na dança.
Saber-se em liberdade é justamente ter consciência que o nosso mundo, a nossa realidade é criada por nós mesmos a cada minuto, a cada segundo.  Somos co-criadores da nossa felicidade ou miséria, juntamente com Deus.  E a plenitude é alcançada quando estamos inteiros, com as partes positiva e negativa em conjunto, traçando nossas experiências e vivências no fluxo da existência, aqui e agora.  Paz e luz.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

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