sábado, 7 de maio de 2016

Abelardo

Abelardo

Pedro Abelardo aparece como o oponente tanto do nominalismo quanto do realismo, mas em não melhor harmonia com a igreja do que Roscelino ou William de Champeaux. Sua condenação por Roma pode ter sido injusta, tendo sido feita numa representação de um adversário declarado, mas embora sua filosofia fosse diferente das duas escolas antagonistas, sua teologia sova igualmente reconectada.  Abelardo viu no nominalismo a negação da filosofia.  Ele limitava o conhecimento aos sentidos, excluindo até o senso comum da razão.  No realismo ele viu o outro extremo, a tendência de excluir os sentidos e encontrar a realidade apenas em abstrações da mente.  Falando de seu mestre, William de Champeaux, ele diz: “Eu retornei a ele para estudar retórica e, entre outras matérias de disputa, eu me pus a mudar – sim, destruir por argumentos claros – sua velha doutrina concernente aos universais.  Ele estava com a mesma opinião concernindo à identidade da substância, que é a mesma coisa, essencialmente e, ao mesmo tempo, estava com os individuais que produzem.  A diferença entre os individuais não vem da essência, mas da variedade do fenômeno.”  Abelardo tomou o estágio intermediário, permitindo à realidade tanto nos universais quanto nos individuais.  Gênero, espécie, diferença, propriedade, acidente, o que eles são?  Coisas, dissera o realista.  Palavras, dissera o nominalista.  Ambos, dissera Abelardo.  Todo individual tem matéria e forma, o primeiro vem do  universal, o último da sua individualidade.  A humanidade, Anselmo dissera, é uma realidade aparte da individualidade; os individuais participam disso e são, eles mesmos, cada um, uma realidade particular fora dela.  Entre essa teoria e a teologia ortodoxa não havia discórdia necessariamente, mas Abelardo era um filósofo.  Ele não acreditava no princípio de Anselmo de que a fé precede a razão, mas diferente de Anselmo, ele esqueceu os limites com os quais a igreja gostaria de confinar a filosofia.  O bispo Hampden enquanto se vingava da ortodoxia dos realistas, recusava a fazer o mesmo por Abelardo.  “Suas expressões na introdução da teologia”, diz o bispo Hampden, “são decididamente panteístas, identificando o Divino Espírito Santo com o Anima Mundi dos estóicos.”
Abelardo como muitos pais da igreja, aceitava as doutrinas de Platão totalmente, sem no entanto, aceitar as do cristianismo. A trindade platônica do Um, ou o bem, a mente com as ideias e o espírito mundo, ele entendia como as três pessoas da trindade cristã.  Bernardo de Claraval o acusou de heresia, ao fazer o espírito mundo o mesmo que o Divino Espírito Santo.  Uma passagem na ‘Dialética’ onde Abelardo explana que em Platão o processo do espírito mundo da mente é temporal, enquanto que no Divino Espírito Santo vindo do Filho é eterno, foi tomado como uma confirmação a favor de Bernardo.


(Livre tradução do livro Pantheism and Christianity de John Hunt, 1884 . Capítulo VIII  .  Escolástica . Abelardo)

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