Arte-enlevo, arte
egóica e arte da neutralidade
Como havia
diferenciação entre a serpente boa e a serpente má entre povos da Antiguidade,
particularmente no Egito Antigo, entre boa e má arte, é lógico, há uma grande
diferença. Entre o Agathodaemon e o Kakodaemon,
a serpente boa e a serpente má, segundo Blavastky no livro A Doutrina Secreta,
ocorrem diferenças enormes.
Só na Idade
Média passou-se a considerar as serpentes exclusivamente como más, como
símbolos do mal. Mas como os povos
antigos chamavam os grandes sábios de serpentes ou dragões, hoje os grandes
mestres, artistas, atletas ou intelectuais, por vezes, são chamados de
“monstros sagrados”. Por que serpente ou
dragão? Por que “monstro sagrado”? Porque havia pensadores gregos que usavam a
metáfora de comer o coração e o fígado das serpentes para adquirir a sabedoria,
advinda da própria lenda ou mito ou construção filosófico-religiosa de Adão e
Eva no Paraíso e as suas quedas por meio da maçã oferecida pela serpente à
Eva. O conhecimento do bem e do
mal. Suas palavras foram tomadas como
verdadeiras e o sábio tem seus ensinamentos consumidos – ou assimilados – pelos
adeptos para adquirir a sabedoria.
A arte egóica
se contrapõe diretamente ou indiretamente à arte-enlevo. É a arte em estado isolado, o sonho profundo,
a escuridão, a inércia. A arte da
neutralidade como o próprio nome diz, propõe relações de troca entre o elevado
e o negativo, entre o ego e a aniquilação do ego, sem opôr-se nem a um nem a
outro. Freneticamente ela propõe a
atividade, seja essa atividade voltada para o elevar-se ou voltada para a
baixeza, ao mesmo tempo, ou ora para um lado, ora para outro lado.
Tamas (arte
egóica), Rajas (arte da neutralidade) e Sattva (arte-enlevo) seriam as
correspondências dessas classificações de acordo com a Ayurveda em conjunto com
a consciência elevada ou consciência cósmica, apontada por orientalistas e
adeptos de religiões orientais e pensadas artisticamente, segundo nossa visão.
A arte egóica
se concentra, em grande parte de sua atuação, no grotesco e no espalhafatoso,
no exagero e na ilusão. Mais comumente
encontrada em obras de arte da arte pop e do mid-cult, mas pode ser encontrada
até no cult e no erudito, quando pensamos em certas “degenerações” desse
próprio movimento sem direção das elites/vanguardas ou
pseudo-elites/vanguardas.
A arte da
neutralidade se concentra, na maioria das vezes, em dubiedades e em
subjetivismos, em conexões e em velocidades.
Mais comumente encontrada em obras de arte do cult e do mid-cult, mas
pode ser encontrada, também, tanto na arte pop quanto na arte erudita, senão
totalmente, mas parcialmente.
A arte-enlevo,
por sua vez, se concentra na pureza e no equilíbrio, na vigília e na
causa. Mais comumente encontrada na arte
erudita, mas pode igualmente ser encontrada no cult e no mid-cult, novamente
salientando-se que nem sempre de forma total, mas apenas parcialmente.
Em nada
interfere na qualidade de uma obra de arte ser erudita ou arte pop, cult ou
mid-cult. Dentro das proximidades ou
afastamentos da cultura dita oficial ou do status quo, percebe-se uma grande
mescla entre tais classificações. Porém,
não se pode deixar de dizer que a recorrência da arte-enlevo na arte erudita em
muito a torna “recomendável” ou “preferível” frente a qualquer outra expressão
de nível “inferior” como o cult, o mid-cult e a arte pop.
Mauricio
Duarte (Divyam Anuragi)
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