sexta-feira, 18 de abril de 2014

Os vivos não



Os vivos não

Parei naquela esquina, naquela...
Olho em volta e só vejo mortos,
por todos e por tudo, mortos.
Os vivos não.
Os vivos não estão lá.

Transeuntes passam ao largo,
decido andar.
Estreito-me por uma viela,
transpasso uma avenida
e chego até a praça.

Ali os mortos tem uma feição diferente,
ali morrem por abstinência.
Abstinência do vício de andar,
para qualquer lugar ou para lugar nenhum.
Não importa.

Vou até mais adiante
E chego aos arcos,
um grande centro cultural,
com seus burburinhos característicos,
mas não me detenho.

Porque lá os mortos também tem
uma tessitura diferente,
morrem por novidades.
Sejam notícias da sua própria morte,
ou de outros, não importa.

Atravesso a rua e me volto para um canal.
A água é suja e fétida,
parece mais um valão do que qualquer coisa.
Eu deixo a minha imaginação correr solta,
olhando para o local.

Naquele lugar os mortos são almas desencarnadas
não sentem o odor da matéria,
não sentem nada.
Nem de si mesmos nem de outros.
E também, não importa.

Parto e volto àquela esquina, aquela...
Olho em volta e só vejo mortos,
por todos e por tudo, mortos.
Os vivos não.
Os vivos não estão lá.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Um comentário:

  1. Prezado Maurício Duarte muito, muito profundo seu poema. Ele tem uma beleza que se traduz na suposta visão dos mortos, daqueles que nos deixaram e que um dia iremos nos unir a eles e gozar desta visão. pode parecer loucura, mas a beleza da poesia é sua loucura, sua articulada incoerência que nos seduz, que nos encanta. PARABÉNS!

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