Liberdade espiritual
Existe uma
liberdade espiritual? Existe o que se
pode chamar de independência dos ditames, dogmas, crenças e doutrinas de
religiões institucionalizadas e, ao mesmo tempo, uma ligação, uma sintonia fina
com a existência, com o Todo, com o Universo?
O esoterismo advoga esse direito e disponibiliza métodos, conceitos e
práticas para que se realize tal intento.
Mas é verdade, também, que mesmo as assim chamadas fraternidades, ordens
e sociedades esotéricas, espiritualistas e místicas guardam, em si, um acúmulo
de material teórico que, se não é de todo supérfluo, pelo menos, 99% sim,
totalmente superficial, descartável e sem valor para a espiritualidade prática,
real.
Alguém
pode, desse modo, declarar “tenho um lado espiritual independente de religiões”
como muitos o fazem na falta de algo concreto com que expressar sua preferência
e/ou caminho espiritual? Pode,
claro. Mas e a seguir? O que fazer para poder florescer esse lado?
Depois
de milênios dentro de sistemas opressores que regulavam a fé e a
espiritualidade, temos uma nova era resplandecendo no horizonte da
humanidade. O Estado tornou-se laico, na
maioria das partes do globo, garantindo o direito de livre escolha para
professar a fé aos seus cidadãos. Mas
até que ponto essa liberdade é efetiva?
Vemos
hoje o perigo do fanatismo beirar às raias do absurdo ou mesmo chafurdar na
lama do absurdo mesmo com o Estado Islâmico, a Al-Qaeda, o Boko Haram, o
Hezbollah e a Jihad Islâmica. Essas
organizações terroristas influenciam centenas de milhares de pessoas das mais variadas classes
econômicas, recrutando até lobos solitários para suas ações em favor da causa.
Mas
esse fenômeno, na verdade, é apenas um sintoma de uma doença maior e muito mais
complexa. A doença, segundo alguns
analistas religiosos ultra-ortodoxos e segundo os próprios fanáticos é a
secularização das sociedades. Porém se
isso fosse verdade, as populações da Índia e do Paquistão, por exemplo e de
outros países ”menos secularizados” não sofreriam com violência, guerras, crime
e... fanatismo. Como é o caso dos Sikhis
na Índia e dos talibãs no Paquistão.
Não,
a liberdade espiritual é algo mais amplo e seu espectro delimita um todo que
vai da laicidade do Estado até comportamentos culturais e de tradição. Isso para citar apenas certas questões
relativas à essa problemática. A verdade é que a maior parte da humanidade
dorme um sonho de ilusão e está fragmentada, sem raízes. Essa é a doença maior.
Porque
o subjetivo do indivíduo não pode, de maneira nenhuma, ser abarcado por uma
religião institucionalizada. Esses
“bastiões da fé” tem mais com o que se preocupar: a conformidade e à sujeição
das sociedades ao status quo e à
normalidade ou ao que se convencionou como normal. O indivíduo é esmagado por todas essas
diretivas da igreja e, a rigor, não entra nas pautas de sacerdotes e clérigos,
a não ser para ser chamado de ovelha, sendo menos do que um ser humano,
basicamente.
As
ordens iniciáticas, juntamente com as fraternidades e sociedades ditas
esotéricas vão além e tentam trazer o indivíduo à sanidade espiritual. Mas seus esforços esbarram nas muitas
hierarquias, degraus e graus que o adepto precisa alcançar antes de realmente
ser levado à sério. Pré-condição que o
enreda tanto na teia dessas organizações que suas opiniões sofrem lavagem
cerebral. Sem falar que a tradição, a
corrente espiritual do mestre ao discípulo só pode ser passada em silêncio,
olho no olho e diretamente. Por mais boa
vontade, método e contextualização que tenham, não podem passar o que uma
Escola de Mistérios passava aos seus neófitos na Antiguidade.
A
liberdade espiritual, desse modo, é impossível?
Eu não diria isso mas antes diria que a verdadeira liberdade
constitui-se de amor divino. Esse amor
que só uma mãe e um pai possuem pelo seu filho.
Quando o devoto sente a Abóbada Celestial grávida da vida que pulsa nos
recônditos das galáxias, nebulosas, quasares, buracos negros e constelações de
todas as partes do cosmo, só assim, essa pessoa pode dizer: Sou filho do
Universo.
A
liberdade espiritual é, a um só tempo, redenção do espírito humano e transcendência
da vida terrena e só pode ser alcançada quando sentimo-nos irmanados ao Todo da
humanidade, bem como ao Todo da natureza na iluminação. Nosso destino final como seres humanos
legitimamente divinos que somos. Paz e
luz.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
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