sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sentir-se vivente

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Sentir-se vivente

Existir não basta. Viver não é tudo.  É preciso saber-se vivo.  É necessário ter consciência da própria vida.  Quase um valor “sem valor” em tempos de conectividade e informação altamente globalizadas e velozes, é com estranhamento, talvez, que muitos ouvirão o que tenho a dizer.  Viver plenamente corresponde a estar em sintonia, em completa afinidade com a existência. Em tal estado, os seus desejos, anseios ou vontades são os mesmos do Universo e “você” não é mais “você”.   Não existiria observador e observado.
Sendo o sumo das filosofias orientais, viver em plenitude é muito mais do que isso.  Como dizia Heráclito, o mais oriental dos filósofos gregos, também chamado de o obscuro:
Não seria melhor
Se as coisas acontecessem aos homens
Exatamente como eles querem
Mas por quê?  Por que não seria melhor?  Porque basicamente estamos todos errados.  Quando desejamos, desejamos dinheiro, uma companheira, um companheiro, viagens, um bom emprego, sorte nos negócios.  Mas raramente – ou quase nunca – desejamos mais vida.  Porque a percepção geral e mais difundida é que vida nós já temos, afinal temos um corpo, falamos, comemos, fazemos amor, excretamos.  Mas falta algo.  E para exemplificar esse algo, recorro ao pensamento de Gurdjieff que dizia que o ser humano não tem alma e que precisa conquistar uma.
Compreensão é transformação, mutação.  É uma revelação saber-se vivente e sentir a vida pulsando nas suas narinas com o ar entrando e saindo ou percebendo o movimento da barriga no hara também com a respiração.  É uma revolução ter consciência dos seus movimentos a ponto de “a camisa pesar” como se diz nos meios futebolísticos. 
O inesperado é a tônica da vida – da verdadeira vida – e a menos que você espere o inesperado, não terá  conexão com o sabor da vida na sua acepção mais selvagem e mais única e original.
Na periferia a vida é um espetáculo, os holofotes, as luzes estão todas lá para nos enganar, sejam as pessoas sérias ou não, isso não importa.  O essencial, a harmonia oculta permanece disponível apenas para aqueles que buscam o fundo, o indizível. Como diz novamente, Heráclito: A natureza ama se esconder.  A natureza não é exibicionista.  E nós, apesar de toda a nossa superficialidade, fazemos parte da natureza.  
A naturalidade no viver é nossa por direito, somos filhos do Universo.  Porém, um olhar aprofundado no cotidiano das pessoas, nos mostrará o quanto esquecemos disso.  O inesperado, o desconhecido é dessa natureza, dessa ordem de coisas que trata a vida.  Se soubermos que cada momento do viver é um clímax e que só é preciso permitir, deixar acontecer, viveremos plenamente, como seres humanos em absoluta dignidade e felicidade. Paz e luz.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

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