sexta-feira, 4 de julho de 2014

Hércules Barsotti e o neoconcretismo









Hércules Barsotti e o neoconcretismo

O neoconcretismo critica o pensamento mecanicista em arte e preocupa-se com os procedimentos abertos da ciência contemporânea, como as especulações em torno das geometrias não-euclidianas - como a cinta de Moebius – conhecimento que atraía Lygia Clark e Lygia Pape. 
Hércules Barsotti, por sua vez, fez parte da ala neoconcreta que aspirava representar o vértice da tradição construtivista no Brasil, ao lado de Willys de Castro, Franz Weissmann, Aluísio Carvão e, até certo ponto, Amilcar de Castro.  Sua arte insere-se também na vigência do conceito de expressão e, foi a partir desse conceito que o neoconcretismo pôde se estabelecer nos limites das tendências construtivistas, na medida em que obteve uma distância crítica em face do programa dessas tendências que chegaram ao Brasil via escola de Ulm.  Esse conceito permitiu ainda, aos neoconcretos deslocarem-se do eixo funcionalista ao redor do qual girava o concretismo.  No caso de Hércules Barsotti isso fica claro nas pesquisas de cor, ao lado de Aluíso Carvão e Hélio Oiticica.
Porém, o artista começou suas pesquisas estéticas evitando a cor e trabalhando apenas com nanquim em superfícies brancas e negras.  Sua fé ortodoxa no preto e branco tornava seu trabalho austero, qualidade que se acentua quando da sua primeira exposição, quando volta ao Brasil em 1959 depois de uma viagem à Espanha, Suíça, Itália e Portugal, onde havia se encontrado com Max Bill.  Em 1960 começa a trabalhar o quadro como um objeto dúbio, um plano que sugere um volume.  Sua pintura é desenvolvida assim nas telas Branco/Preto e Preto/Branco/Preto.  Esta abordagem o aproxima do Grupo Neoconcreto e, com esses artistas, expõe em 1960 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna em São Paulo (MAM/SP) em 1961.
A partir de 1963 abandona o preto e branco e passa a trabalhar a cor.  O formato das suas telas determinava a estrutura interna do trabalho.  Produz quadros em formatos hexagonais, redondos e pentagonais.  Projeta também em 1963, a identidade visual da Galeria Novas Tendências, fundada e gerida pelo grupo concreto de São Paulo.
Em sua obra, o artista explora a disposição dos campos de cor, criando a ilusão de tridimensionalidade.   Segundo o próprio Hércules: “Quando encosto uma cor na outra é que percebo a relação entre elas; nesse momento, é meu olho e não minha cabeça que decide.”
Também encontramos em sua obra uma incessante pesquisa óptica influenciada pela Op Art. No entanto, ficou conhecido mesmo por seu trabalho com a cor, pois suas composições primeiro seduzem pela experiência da cor, para depois, incentivar à reflexão.
O artista neoconcreto faleceu em 2010, e em 2012, a Caixa Cultural abrigou a exposição Além do Olhar, com obras de Barsotti com uma mostra que fazia uso de práticas inclusivas, com a utilização do braile e com texturas em suas peças, através de leitura visual pelo tato dando acesso aos cegos à arte desse grande pensador visual brasileiro.

Esse artigo encontra-se publicado na minha coluna do site Divulga Escritor: http://www.divulgaescritor.com/products/hercules-barsotti-e-o-neoconcretismo-por-mauricio-duarte/ 

Nenhum comentário:

Postar um comentário