Hércules Barsotti e o neoconcretismo
O
neoconcretismo critica o pensamento mecanicista em arte e preocupa-se com os
procedimentos abertos da ciência contemporânea, como as especulações em torno
das geometrias não-euclidianas - como a cinta de Moebius – conhecimento que
atraía Lygia Clark e Lygia Pape.
Hércules
Barsotti, por sua vez, fez parte da ala neoconcreta que aspirava representar o
vértice da tradição construtivista no Brasil, ao lado de Willys de Castro,
Franz Weissmann, Aluísio Carvão e, até certo ponto, Amilcar de Castro. Sua arte insere-se também na vigência do
conceito de expressão e, foi a partir desse conceito que o neoconcretismo pôde
se estabelecer nos limites das tendências construtivistas, na medida em que
obteve uma distância crítica em face do programa dessas tendências que chegaram
ao Brasil via escola de Ulm. Esse
conceito permitiu ainda, aos neoconcretos deslocarem-se do eixo funcionalista
ao redor do qual girava o concretismo.
No caso de Hércules Barsotti isso fica claro nas pesquisas de cor, ao
lado de Aluíso Carvão e Hélio Oiticica.
Porém, o
artista começou suas pesquisas estéticas evitando a cor e trabalhando apenas
com nanquim em superfícies brancas e negras.
Sua fé ortodoxa no preto e branco tornava seu trabalho austero,
qualidade que se acentua quando da sua primeira exposição, quando volta ao
Brasil em 1959 depois de uma viagem à Espanha, Suíça, Itália e Portugal, onde
havia se encontrado com Max Bill. Em
1960 começa a trabalhar o quadro como um objeto dúbio, um plano que sugere um
volume. Sua pintura é desenvolvida assim
nas telas Branco/Preto e Preto/Branco/Preto.
Esta abordagem o aproxima do Grupo Neoconcreto e, com esses artistas,
expõe em 1960 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro e no
Museu de Arte Moderna em São Paulo (MAM/SP) em 1961.
A partir de
1963 abandona o preto e branco e passa a trabalhar a cor. O formato das suas telas determinava a
estrutura interna do trabalho. Produz
quadros em formatos hexagonais, redondos e pentagonais. Projeta também em 1963, a identidade visual
da Galeria Novas Tendências, fundada e gerida pelo grupo concreto de São Paulo.
Em sua obra, o
artista explora a disposição dos campos de cor, criando a ilusão de
tridimensionalidade. Segundo o próprio
Hércules: “Quando encosto uma cor na outra é que percebo a
relação entre elas; nesse momento, é meu olho e não minha cabeça que decide.”
Também encontramos em sua obra uma incessante pesquisa óptica
influenciada pela Op Art. No entanto, ficou conhecido mesmo por seu trabalho
com a cor, pois suas composições primeiro seduzem pela experiência da cor, para
depois, incentivar à reflexão.
O artista neoconcreto faleceu em 2010, e em 2012, a Caixa
Cultural abrigou a exposição Além do Olhar, com obras de Barsotti com uma
mostra que fazia uso de práticas inclusivas, com a utilização do braile e com
texturas em suas peças, através de leitura visual pelo tato dando acesso aos
cegos à arte desse grande pensador visual brasileiro.
Esse artigo encontra-se publicado na minha coluna do site Divulga Escritor: http://www.divulgaescritor.com/products/hercules-barsotti-e-o-neoconcretismo-por-mauricio-duarte/
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