A merda no ventilador
Aqui falamos de tudo
e de nada, ao mesmo tempo.
Aqui é a classe média brasileira.
Devem me desculpar,
por tão prosaico tema em poesia.
Busquei outros, mas nada me vem hoje.
Liguei e desliguei tantas vezes
aquele velho ventilador
que o aparelho pareceu afeiçoar-se a mim.
Olhava para mim como que dizendo:
desligue-me para sempre, aposente-me.
Liguei e desliguei
tantas vezes aquele treco,
o vento quente quando no verão
um vento frio, geladíssimo no inverno,
insuportável.
O eletrodoméstico olhava para mim
e eu olhava para ele,
tantas vezes
que eu já nem sei.
Acho que a máquina pedia por descanso.
Mas infelizmente eu não tinha outro.
Não podia me desfazer dele
Quiçá, algum dia, seria possível
comprar um circulador, quem sabe?
Enfim decidi-me: aos excrementos então.
Devem me desculpar pelo assunto besta,
na casa da classe média brasileira,
não tem ar condicionado.
Aqui falamos de tudo
e de nada, ao mesmo tempo.
Aqui é a classe média brasileira.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Tudo pode ser poesia para quem talento como você até merda no ventilador.
ResponderExcluirAbraços poeta. Gostei da ousadia e talento.